Imagem: foto de Evgen Bavcar
Provavelmente você já escutou ou leu algumas
vezes as máximas proferidas na obra “O pequeno príncipe” de Antoine Exupéry: “O
essencial é invisível aos olhos”. “Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com
o coração”.
Ficamos tocados com a obra sensível
do autor. Mas manter o coração alerta para perceber o mundo não é tarefa fácil.
Queremos a segurança do olhar que atesta, verifica, que pode provar, catalogar,
racionalizar. Olhar com o coração significa estar aberto para o que não nos fornece compensações
materiais, segurança, ganhos financeiros, lucros imediatos, visibilidade,
reconhecimento, um lugar no mercado, títulos, cargos e importâncias catalogadas
pela sociedade.
No âmbito das artes visuais o olhar é fundamental, já que trabalhamos privilegiando
o sentido da visão. Mas falamos aqui de um olhar caçador, que busca ver além do
que está posto na banalidade dos dias. Trata-se de um olhar que está além da
visão.
Pensando nas qualidades desse olhar especial surge em minha lembrança a
obra fotográfica do esloveno Evgen Bavcar. Cego desde os doze anos de idade,
ele utiliza do tato e dos sons para ter a noção de espacialidade. É possível
perceber nas fotografias a composição estética com fortes contrastes de luz e
sombra.
Conheci Evgen Bavcar por intermédio do
documentário “Janela da Alma”, dos diretores João Jardim e Walter Carvalho. Fiquei
impressionada com a beleza poética das fotos. Especialmente nunca esqueci da
declaração que Bavcar fez com relação a ele ser um “Narciso sem espelho”:
“A imagem que mais me faz falta é aquela da
qual todos carecem: poder ver a si mesmo com seus próprios olhos. As pessoas
acreditam que se veem com seus próprios olhos, mas assim como eu, precisam de
um espelho. A diferença é que, no meu caso, os espelhos são diferentes. Mas
isso é uma sorte pra mim porque dessa maneira evito de me afogar, tal qual o
infeliz Narciso. Sou um Narciso sem espelho, e isso é uma sorte.” (Evgen
Bavcar, Janela da Alma).
Olhar com o coração na pressa visível na contemporaneidade é um desafio.
Mas é incalculável o que podemos trazer de uma jornada com o olhar
desperto. Perceber os detalhes
escondidos, ver o invisível, observar o movimento da natureza, o vento
promovendo o diálogo das árvores, o olhar para si. O tempo do olhar
contemplativo proporciona a consciência do raro no cotidiano e é nesse tempo
que desabrochamos.
2 comentários:
Que post lindo e que sentido fez para mim em um sentido material, de olhar com outros olhos além dos físicos, mas também no espiritual.. enfim, digerindo ainda! Rs
:)
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