Para quem gosta de arte, a visita a um grande
museu costuma vir acompanhada de uma dose extra de ansiedade. Encontrar obras de arte “ao vivo” é diferente
de visualizá-las por intermédio de ilustrações nos livros e imagens recolhidas
da internet. Quando gostamos muito dos trabalhos de um artista, criamos expectativas,
porque criamos mundos novos.
Permanecemos muito tempo contemplando o
trabalho, dialogando com ele. Nem percebemos os grupos de turistas, não ligamos
para os guias, que informam o título da obra, o ano, a técnica utilizada. Afinal,
não é isso o que mais importa. Creio que quem gosta de arte busca a relação, o
contato, a troca. Na ansiedade de saber o que levaremos conosco após a visita.
Senti uma forte emoção na primeira vez que vi uma obra de Vincent Van
Gogh. As pinceladas intensas, febris, mexeram comigo, foi impossível escapar do
rebuliço promovido pela intensidade da arte. Nunca esqueci a cor vibrante, as
personagens que pareciam saltar da tela. Talvez porque a história do artista
está impregnada no trabalho que ele realizou. Um sentimento de inadequação
seguiu o artista do começo ao fim de sua existência e ele buscava abrir espaços
de possível na arte.
Vincent Van Gogh apreciava a comunicação por cartas. Realizou muitas
trocas epistolares e uma das mais profícuas foi com o irmão, Théo. Pelas
narrativas trocadas entre os irmãos é possível acompanhar os sonhos, desejos, medos,
crises emocionais, sensações, angústias, além das reflexões sobre o processo
criativo.
No tempo em que viveu, foi taxado como louco. É conhecido o episódio do corte da orelha, após
a briga com Paul Gauguin. Como artista, foi incompreendido na linguagem, vendeu
somente um trabalho. Atualmente, suas telas valem milhões de dólares.
A arte segue caminho em marés turbulentas e paradoxais. No fluxo das dinâmicas sociais, a produção
artística está afetada pelos rumos de poder. No entanto, o que podemos trazer de
mais valoroso do encontro com a obra de um artista como Van Gogh? Cada um falará
por si, pois o que brota do encontro com a arte é do tear do mistério. No meu
caso, a sensação de uma noite estrelada me acompanha principalmente quando as
estrelas de meu céu não brilham tanto quanto eu gostaria.
Van Gogh renova as esperanças.
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