domingo, 15 de junho de 2014

Sensações de uma noite estrelada

               
                Obra: “A noite estrelada”, Vincent Van Gogh, 1889, óleo sobre tela, Museu de Arte Moderna, Nova York.

                  Para quem gosta de arte, a visita a um grande museu costuma vir acompanhada de uma dose extra de ansiedade.  Encontrar obras de arte “ao vivo” é diferente de visualizá-las por intermédio de ilustrações nos livros e imagens recolhidas da internet. Quando gostamos muito dos trabalhos de um artista, criamos expectativas, porque criamos mundos novos.
          Permanecemos muito tempo contemplando o trabalho, dialogando com ele. Nem percebemos os grupos de turistas, não ligamos para os guias, que informam o título da obra, o ano, a técnica utilizada. Afinal, não é isso o que mais importa. Creio que quem gosta de arte busca a relação, o contato, a troca. Na ansiedade de saber o que levaremos conosco após a visita.
          Senti uma forte emoção na primeira vez que vi uma obra de Vincent Van Gogh. As pinceladas intensas, febris, mexeram comigo, foi impossível escapar do rebuliço promovido pela intensidade da arte. Nunca esqueci a cor vibrante, as personagens que pareciam saltar da tela. Talvez porque a história do artista está impregnada no trabalho que ele realizou. Um sentimento de inadequação seguiu o artista do começo ao fim de sua existência e ele buscava abrir espaços de possível na arte.
          Vincent Van Gogh apreciava a comunicação por cartas. Realizou muitas trocas epistolares e uma das mais profícuas foi com o irmão, Théo. Pelas narrativas trocadas entre os irmãos é possível acompanhar os sonhos, desejos, medos, crises emocionais, sensações, angústias, além das reflexões sobre o processo criativo.
          No tempo em que viveu, foi taxado como louco.  É conhecido o episódio do corte da orelha, após a briga com Paul Gauguin. Como artista, foi incompreendido na linguagem, vendeu somente um trabalho. Atualmente, suas telas valem milhões de dólares.
          A arte segue caminho em marés turbulentas e paradoxais.  No fluxo das dinâmicas sociais, a produção artística está afetada pelos rumos de poder. No entanto, o que podemos trazer de mais valoroso do encontro com a obra de um artista como Van Gogh? Cada um falará por si, pois o que brota do encontro com a arte é do tear do mistério. No meu caso, a sensação de uma noite estrelada me acompanha principalmente quando as estrelas de meu céu não brilham tanto quanto eu gostaria. 
          Van Gogh renova as esperanças.
           




Nenhum comentário: