Edward
Hopper. “Aves da noite”, 1942, óleo sobre tela, 84x142cm.
Nós estamos sós. Solitários nas multidões. Confinados em espaços mínimos, unidos e separados por muros, grades, cercas, blindagens e tecnologias. Sempre com pressa, em trânsito, com medo da violência. Quase não conversamos, mas teclamos muito. Prisioneiros do celular, dos aplicativos que nos castram. Narcísicos, sorrimos para a câmera e ensaiamos poses. Queremos que nos vejam felizes, mesmo que seja somente nas imagens que forjamos.
Impulsionada pelas conexões que o
filme puxou, recordo as pinturas de Edward Hopper. Conhecido como o pintor da solidão, Hopper
lança mão de paisagens repletas de espaços vazios. As figuras humanas parecem replicar o vazio dos
ambientes. A sensação da pintura é de uma interioridade psíquica desértica,
melancólica, angustiada, permeada por um silêncio gritante.
A rua desértica surge na pintura “Aves
da Noite”. Aqui Hopper apresenta clientes num restaurante, revelando, pela luz
que banha o ambiente, uma clandestinidade solitária. No cenário, um homem de
costas parece desfiar mágoas internas, um casal sem intimidade afetiva, um
garçom que realiza mecanicamente os movimentos próprios do trabalho. Todos imersos em seus pensamentos e angústias
existenciais, sem pontes para o outro. Todos solitários.
No filme “Medianeras”, o maior desejo
das personagens era de encontrar alguém com quem pudessem compartilhar
caminhos. Nas telas de Hopper, viceja implicitamente
este mesmo desejo. Afinal, como na tela ou no filme, se estamos sós, buscamos
encontrar um nós. Alguém para fazer par, fazer laço, amar.
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