terça-feira, 20 de maio de 2014

Sós e Nós

          
                                  Edward Hopper. “Aves da noite”, 1942, óleo sobre tela, 84x142cm.      

       
          

          Nós estamos sós. Solitários nas multidões. Confinados em espaços mínimos, unidos e separados por muros, grades, cercas, blindagens e tecnologias.  Sempre com pressa, em trânsito, com medo da violência. Quase não conversamos, mas teclamos muito. Prisioneiros do celular, dos aplicativos que nos castram. Narcísicos, sorrimos para a câmera e ensaiamos poses. Queremos que nos vejam felizes, mesmo que seja somente nas imagens que forjamos.

           Assisti há pouco tempo, na sala de vídeo da faculdade, o filme argentino “Medianeras”, de 2011. Um filme que trata fundamentalmente da solidão contemporânea, na era do “amor virtual”. Vivemos em grandes cidades, estamos juntos e paradoxalmente separados. Trata-se de um fenômeno típico de nossa contemporaneidade: a solidão urbana.

          Impulsionada pelas conexões que o filme puxou, recordo as pinturas de Edward Hopper.  Conhecido como o pintor da solidão, Hopper lança mão de paisagens repletas de espaços vazios.  As figuras humanas parecem replicar o vazio dos ambientes. A sensação da pintura é de uma interioridade psíquica desértica, melancólica, angustiada, permeada por um silêncio gritante.

          A rua desértica surge na pintura “Aves da Noite”. Aqui Hopper apresenta clientes num restaurante, revelando, pela luz que banha o ambiente, uma clandestinidade solitária. No cenário, um homem de costas parece desfiar mágoas internas, um casal sem intimidade afetiva, um garçom que realiza mecanicamente os movimentos próprios do trabalho.  Todos imersos em seus pensamentos e angústias existenciais, sem pontes para o outro. Todos solitários.

          No filme “Medianeras”, o maior desejo das personagens era de encontrar alguém com quem pudessem compartilhar caminhos.  Nas telas de Hopper, viceja implicitamente este mesmo desejo. Afinal, como na tela ou no filme, se estamos sós, buscamos encontrar um nós. Alguém para fazer par, fazer laço, amar.  

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