quarta-feira, 16 de julho de 2014

Olhar com o coração


Imagem: foto de Evgen Bavcar

Provavelmente você já escutou ou leu algumas vezes as máximas proferidas na obra “O pequeno príncipe” de Antoine Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”. “Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração”.
Ficamos tocados com a obra sensível do autor. Mas manter o coração alerta para perceber o mundo não é tarefa fácil. Queremos a segurança do olhar que atesta, verifica, que pode provar, catalogar, racionalizar. Olhar com o coração significa estar aberto para o que não nos fornece compensações materiais, segurança, ganhos financeiros, lucros imediatos, visibilidade, reconhecimento, um lugar no mercado, títulos, cargos e importâncias catalogadas pela sociedade.
No âmbito das artes visuais o olhar é fundamental, já que trabalhamos privilegiando o sentido da visão. Mas falamos aqui de um olhar caçador, que busca ver além do que está posto na banalidade dos dias. Trata-se de um olhar que está além da visão.
Pensando nas qualidades desse olhar especial surge em minha lembrança a obra fotográfica do esloveno Evgen Bavcar. Cego desde os doze anos de idade, ele utiliza do tato e dos sons para ter a noção de espacialidade. É possível perceber nas fotografias a composição estética com fortes contrastes de luz e sombra.
Conheci Evgen Bavcar por intermédio do documentário “Janela da Alma”, dos diretores João Jardim e Walter Carvalho. Fiquei impressionada com a beleza poética das fotos. Especialmente nunca esqueci da declaração que Bavcar fez com relação a ele ser um “Narciso sem espelho”:

“A imagem que mais me faz falta é aquela da qual todos carecem: poder ver a si mesmo com seus próprios olhos. As pessoas acreditam que se veem com seus próprios olhos, mas assim como eu, precisam de um espelho. A diferença é que, no meu caso, os espelhos são diferentes. Mas isso é uma sorte pra mim porque dessa maneira evito de me afogar, tal qual o infeliz Narciso. Sou um Narciso sem espelho, e isso é uma sorte.” (Evgen Bavcar, Janela da Alma).

Olhar com o coração na pressa visível na contemporaneidade é um desafio. Mas é incalculável o que podemos trazer de uma jornada com o olhar desperto.  Perceber os detalhes escondidos, ver o invisível, observar o movimento da natureza, o vento promovendo o diálogo das árvores, o olhar para si. O tempo do olhar contemplativo proporciona a consciência do raro no cotidiano e é nesse tempo que desabrochamos.


2 comentários:

Rô Rezende disse...

Que post lindo e que sentido fez para mim em um sentido material, de olhar com outros olhos além dos físicos, mas também no espiritual.. enfim, digerindo ainda! Rs

Ana Valeska Maia disse...

:)