Ganhei um lindo buquê de rosas. Empolgada com o toque de veludo das
flores ignorei os espinhos. A beleza algumas vezes cega e esquecemos
suas traições. Não deu outra.
Espinho-dor. Enquanto o sangue gotejava procurei na lembrança outras similaridades, recordações de quando manuseamos coisas bonitas e nos ferimos sem querer. Lembrei da taça de cristal finíssimo, utilizada em ocasiões solenes, mega-ultra-especiais. Quebrou bem na minha mão. O que era belo foi reduzido a cacos. E me deixou uma ferida que hoje é cicatriz.
Cacos
e espinhos voltam à lembrança quando vejo alguns anúncios no Facebook.
Um leque de dietas milagrosas, promessas de corpos impecáveis e
rejuvenescimento seguro. Falam de uma mãe de 54 anos que aparenta ter a
idade da filha. Imagino que se existem tantos anúncios é porque tem quem
procure. Muita gente sonhando com uma vida photoshop.
Tudo
perfeito, sem marcas nem rugas. E os cacos e espinhos? Com certeza
estão em algum lugar, bem escondidinhos. Vida de gente perfeita é falsa,
tediosa, desinteressante. O ser humano verdadeiro é imperfeito, cheio
de contradições, frágil como a taça de cristal.
Olho a vida
acontecendo e noto que perfeição é cobrança constante. No trabalho não
aceitam falhas. Querem pessoas que parecem máquinas produzindo
resultados, batendo metas, turbinando as estatísticas.
A ditadura do mercado molda pessoas que não querem mais ser pessoas. Querem ser empresas de sucesso.
A ditadura do mercado molda pessoas que não querem mais ser pessoas. Querem ser empresas de sucesso.
Máquina
quando quebra e não tem conserto vai para o lixo. Empresa de sucesso
pode falir. Pessoa se desmonta e se monta de novo. Dos cacos faz
mosaico. Dos retalhos faz colcha. E pode ficar até mais bonito assim.
Vida é força tecelã. Forte como espinho. Frágil como flor. Jardim.
Quando
novamente segurar uma taça de cristal, farei um brinde às imperfeições
humanas e à capacidade que temos de aprendizado, nesse construto de
cacos e espinhos. Cada um único no mundo, na corda bamba de todos os
dias. E se a taça quebrar não tem problema.
A gente desmonta e monta. Somos todos equilibristas.
(crônica publicada no jornal O Povo edição de 14/01/2013)
Um comentário:
Extasiada com suas palavras, querida Ana que escreve com a Alma e faz a minha se movimentar junto =)
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