segunda-feira, 28 de abril de 2014

A arte que não serve pra nada?


“O poeta é uma pessoa que reverdece nele mesmo”.
Manoel de Barros.


                                            Imagem: “Coleta da neblina”, 2002, Brígida Baltar.

 “O poeta é uma pessoa que reverdece nele mesmo”.
Manoel de Barros. 
No ano de 2002, a artista Brígida Baltar saiu em jornada. Munida com frascos de vidro, acoplados em suas costas por uma espécie de colete feito de plástico-bolha, a artista coletou a neblina. Fez o mesmo procedimento com o orvalho e a maresia.  
A imagem extremamente contemplativa e poética do trabalho de Brígida evocou muitas memórias, principalmente literárias. Evocações que passam pelo sentido da arte. Recordei Júlio Cortázar. De sua escrita sobre Cronópios e Famas. Diz o autor argentino que o Cronópio tem sua força na poesia. “Eles cantam, como as cigarras, indiferentes ao prosaísmo do cotidiano”. Os Famas são acomodados, prudentes e dados ao cálculo. Verificam os preços, a adequação à forma, se está tudo de acordo com o figurino, seguem padrões pré-estabelecidos.
Numa sociedade de encaixes, fórmulas e padrões impostos, um Cronópio é um ser estranho, desencaixado. Em um mundo rígido, em que tudo tem que servir para alguma coisa, ter uma função específica, qual o lugar de um Cronópio? Qual o sentido da arte?  Para que ela serve?
Manoel de Barros responde. Para que escrever sobre formiguinhas, sapos, borboletas? De que adianta escrever sobre isso? “Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades”, diz o poeta.

Um artista nunca realizará feitos maiores do que a natureza já fez. Se a arte serve para alguma coisa é para nos dar um sacolejo, no sentido de lembrar que a vida vale mais do que a arte. E é por isso que sem arte a gente não vive. 

3 comentários:

poetamaurilio disse...

Parabéns pelo lindo artigopoético!
Suas belas palavras me lembraram
outro poeta:

"Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã".
(Carlos Drummond de Andrade)

Viva a poesia,
a arte,
a vida!

A vida engajada
na arte,
a arte engajada
na/pela vida!

Abraços,
Maurílio.

Rô Rezende disse...

Que engraçado, estou há dias pensando em mudar de profissão e seguir carreira em educação de artes. E isso me leva a pensar muito sobre o que é a arte, qual a função dela. Essa pergunta tem reverberado aqui dentro dia após dia!

Ai, uma amiga me perguntou uma coisa sem nenhuma conexão com isso e joguei no Google para responder, cai aqui. Seu post veio com uma resposta a essa perguntas todas que têm ecoado. Na verdade, acho que por aqui vou encontrar diversas coisas que vão me ajudar na decisão e no processo todo.

E eu fiz toda essa introdução para dizer uma coisa bem simples, na verdade: GRATIDÃO por esse post lindo. Me inspirou de uma forma que nem eu ainda sei bem.

Beijos!

Ana Valeska Maia disse...

Grata pelas palavras poéticas Maurílio!

Rô Rezende, que legal teu post! Fiquei muito feliz com o que escreveste. Abraço bem apertado!