Não foi a polêmica envolvendo o filme sobre o profeta Maomé, nem o
desgosto de saber o tamanho do jorrar de valores nas campanhas para
eleição do futuro prefeito de Fortaleza, muito menos o desdobrar do
julgamento do mensalão, com as performances de Joaquim Barbosa e Ricardo
Lewandowski. A notícia que propiciou ressonâncias em meu ser e aguçou o
tear das memórias foi a de um homem passeando com seu cachorro. E, de
repente, a surpresa: uma mudança de itinerário imposta, um sequestro
relâmpago e o homem, horas depois, sem uma parte de seu dinheiro e
também sem Lucky, o cachorrinho de estimação.
O arrancar
violento de Lucky da convivência familiar despertou o desejo de saber
de outras histórias. Das relações afetivas entre cachorro e gente.
Histórias de cães fujões, roubados, abandonados, perdidos, encontrados.
Nos jornais estava a narrativa sobre Pablo, roubado e oferecido como
pagamento de dívida de tráfico, a dona aflita, assumindo uma busca
intensa para tê-lo de volta, pagando o resgate em uma boca de fumo.
Recordei
de um episódio da infância, quando o cachorro dos meus vizinhos fugiu.
Bastou um pequeno descuido, uma porta entreaberta e com ela a presença
do rastro invisível da fuga. Depois, as providências: perguntas aos
vizinhos, aos transeuntes, a qualquer um que passasse por perto.
Cartazes espalhados pela cidade com a imagem do fugitivo, ofertas de
recompensa e corações inquietos garimpando esperança, um dia após o
outro. Nem naqueles dias de procura nem em nenhum outro dali em diante
encontraram o cachorrinho perdido. Com o tempo, acostumaram-se com a
falta doída, com a presença inquietante da ausência.
Creio
que nossa relação com os animais nos proporciona o contato com o
humano-bicho que somos, com a criança que mora em nós. Dos profundos
afetos que temos quando nossos corações estão desarmados. Quando vi um
homem pra lá de seus 60 anos chorando como um menino diante da morte de
seu cão querido, entendi que temos todas e nenhuma idade.
(artigo publicado no jornal O Povo, edição de 24/09/2012)
3 comentários:
Em nós, só o presente é Real. Não há tempo.
adorei!
adorei!
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