quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Um mergulho na pele de Almodóvar



O trabalho da artista Louise Bourgeois entrelaça o filme "A pele que habito", de Almodóvar, um dos filmes mais impactantes que assisti. Na construção estética, mais do que um mergulho no universo das artes visuais, o filme promove um diálogo entre as linguagens, desde o livro "Tarântula", do francês Thierry Jónquet, aos clássicos de Mary Shelley ou o cinema de Fritz Lang, Alfred Hitchcock e Georges Franju, além de tantas outras que não falarei aqui para não tornar minha narrativa cansativa. Deixo teus encontros por tua conta. Sim, "A pele que habito" traz muitas referências, a construção estética e simbólica é extremamente rica, inclusive a clássica visão do artista contemplando sua obra, como é o caso do Dr. Robert, personagem de Antonio Banderas ao passar parte do tempo admirando Vera, personagem de Elena Anaya. O construto de Almodóvar abraça seus referenciais não pela superfície, mas pelas entranhas e nos arrasta a um mergulho complexo, ao que está mais profundo que a pele, aos porões da violência da alma humana, ao que dá vida e terror ao olhar, às carnes e ao desejo; a construção/desconstrução do eu diante das relações de poder de um outro que te invade, te habita, te transforma até às últimas consequências. O filme é sombrio, visceral e gritante.  Por razões óbvias não trarei trajetos de roteiro, por ainda estar processando o que me afetou e por deixar quem me lê instigado para encontrar suas próprias conexões de sentido. O que posso te avisar é da necessidade de coragem. Tua pele será cortada de alguma forma. Verás a violência forjada na crueldade do desejo humano, que assume a forma de um tipo de beleza inquieta, transcendente de padrões, bizarra. Verás arte, como apenas o humano consegue tecer e fazer habitar.

Um comentário:

Sérgio Costa disse...

Bela dica. O Almodóvar sempre nos faz sintonizar esse lado entranhado, um rizoma para além da pele... porque todo mundo é carne, "pulsão irrefreável" (copiando uma pessoa ali...) e isso pode ser admiravelmente trabalhado em forma de arte.

Minha querida, tô nessa vibe também, mas é com música: nova postagem lá no KindS of Blue.

Um beijo!