segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Gris


Dia nublado e as cinzas de um fogo que vive no outro quarteirão invadem a casa. Atrevidas, decidem repousar em meu sofá de tecido branco, alojam-se nas almofadas, toalhas de mesa, na fibra de meus livros, em mim. Deslizo os dedos pelo braço, coberto pelas cinzas e acho esse pedaço de corpo parecido com um suporte ancestral para desenho a carvão. Gris, palavra bonita para ser cinza. Gris pode ser anúncio de mudança, como é a angústia do que precisa ser e ainda não é. Lembrei de um dia de nuvens carregadas, eu saía do fórum trabalhista competindo com o céu, carregada de processos, desejos e medos. O alto cinza chumbo pedindo para chover e nada. Não chovia. Pensei que não existe nada pior do que uma chuva que não cai, pronta para acontecer, acúmulo sem encontrar escapatória, prisão em domicílio andante. Grito mudo. Fiquei olhando para o céu, firmando pacto com ele, decidida a ficar diante da porta do fórum, advogando em causa própria, visualmente parada e patética, fiquei por lá, até chover e, finalmente, chorei.

Um comentário:

Gabriel Rochetti disse...

Gris/cinza, é a cor dos meus cabelos...