Dia nublado e as cinzas de um
fogo que vive no outro quarteirão invadem a casa. Atrevidas, decidem repousar
em meu sofá de tecido branco, alojam-se nas almofadas, toalhas de mesa, na
fibra de meus livros, em mim. Deslizo os dedos pelo braço, coberto pelas cinzas
e acho esse pedaço de corpo parecido com um suporte ancestral para desenho a
carvão. Gris, palavra bonita para ser cinza. Gris pode ser anúncio de mudança, como
é a angústia do que precisa ser e ainda não é. Lembrei de um dia de nuvens
carregadas, eu saía do fórum trabalhista competindo com o céu, carregada de
processos, desejos e medos. O alto cinza chumbo pedindo para chover e nada. Não
chovia. Pensei que não existe nada pior do que uma chuva que não cai, pronta
para acontecer, acúmulo sem encontrar escapatória, prisão em domicílio andante.
Grito mudo. Fiquei olhando para o céu, firmando pacto com ele, decidida a ficar
diante da porta do fórum, advogando em causa própria, visualmente parada e patética,
fiquei por lá, até chover e, finalmente, chorei.
Um comentário:
Gris/cinza, é a cor dos meus cabelos...
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