quarta-feira, 23 de junho de 2010

Nos corredores do cárcere


Estive recentemente caminhando pelos corredores do cárcere: realizei uma visita de campo ao Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira, o IPPOO II, em Itaitinga – CE..

A visita de campo foi um desdobramento da discussão teórica do tópico que ministrei sobre antropologia criminal, para os estudantes do curso de psicologia.

Quem acompanha a situação do sistema carcerário no Brasil já tem plantada no imaginário cenas chocantes. Cadeias e presídios que funcionam como depósito de gente. Em várias situações críticas as pessoas que estão em conflito com a lei são destinadas a viver em espaços sufocantes, na imundície e na violência.

O IPPOO II é um presídio que apresenta uma boa estrutura, se comparado a outros presídios do Estado. Mesmo assim, entrar na carceragem é uma experiência angustiante e opressora. Grades proliferam por todos os espaços. É sufocante. A carceragem é dividida em 10 espaços, chamados “vivências”. Das 10 vivências, 03 utilizam a proposta APAC, que defende uma proposta de ressocialização dos internos utilizado fundamentos cristãos. Os presos destas 3 vivências da APAC possuem alguns privilégios. Trabalham na marcenaria, na padaria, na lavanderia ou na biblioteca e todos devem ter bom comportamento. Muitos dos internos desenvolvem um viés artístico. Encontrei trabalhos muito bem executados de marchetaria e tapeçaria.

Ressalto que a presença da religiosidade é um dado muito forte. Um dos internos fez um pequeno discurso para nós com uma bíblia nas mãos. Disse em alto tom “Só Jesus transforma a vida do homem”. Recebi dele um papel de divulgação religiosa que diz ”todos somos culpados”.

Revejo o papel que o interno depositou em minhas mãos. Venho refletindo muito sobre o impacto dessa visita. Há tempos questiono o rótulo do bandido, que tanto foi infiltrado na linguagem do senso comum. e não me conformo com a facilidade dessas taxações. As relações sociais são complexas e devem ser examinadas em sua complexidade. Existe um fenômeno com o aumento da violência urbana em nosso capitalismo selvagem que é a criminalização da pobreza. E sabemos quem é que vai para o cárcere no Brasil. Os criminosos ricos, que são muitos, escapam das garras da lei. Constantemente recordo de passagens da entrevista de Vera Regina Pereira de Andrade, pós doutora em Direito Penal e Criminologia: "a função real da prisão é o controle de classes, e se devemos falar em ressocialização de alguém é da própria sociedade que produz os seus criminosos".

2 comentários:

Corpo meu, minha morada! disse...

Enquanto leio as linhas que por ti foram traçadas, sinto um nó na garganta! Nós enquanto sociadade nos alegramos com a condição subhumana que é a realidade do nosso cárcere! Qual a real função das PENITENCIÁrias? É de punição, segregação...E de forma tímida se é trabalhado a resocialização,o estímulo a arte e até mesmo a uma busca religiosa. É duro pensar nisso.

Bjo Laís

Ana Valeska Maia disse...

É a caverna, Laís, é a caverna.