domingo, 2 de novembro de 2008

Pensar doente dos olhos

Sonntag. Dia do Sol. 星期日 . Zondag. Sunday. Pühapäev. 日曜日. Söndag. Søndag. Diumenge. Dia do Senhor. Domingo. Daina. Dimanĉo. Dimanche. Κυριακή. Domenica. Domingo. Duminică. Niedziela. Domingo. Domingo. Domingo. Domingo. Joana tentava abstrair o peso do domingo, tentando esquecer que era domingo mas não conseguia parar de pensar que era domingo. Pensar. Pensar. Pensar. Alberto Caeiro disse que “pensar é estar doente dos olhos”. Nesse domingo Joana sentiu-se portadora de uma doença grave. Algo que a obrigava a ficar em casa, enquanto os amigos preocupavam-se com ela e o telefone não permitia o descanso da enferma: - Alô? Sim, estou bem, quero apenas ficar só. - Mas não pode, Joana! Não se isole do mundo! E Joana pensava com seus olhos doentes: de qual mundo me isolo? De qual mundo me aproximo?
Conquistou o direito de ficar largada no domingo. Não tomar banho, não colocar lentes de contato, deixar a pele oleosa, ficar com cheiro de gente. Não queria contato. Não estava afim de não ser quem ela era no domingo. E como quem poderia compartilhar do mundo de Joana não dava sinais, ela optou pela solidão. Melhor assim. Mergulhar no caos de si. Joana quer encontrar seus trilhos, apenas com a ressalva que não quer saber o final, quantas paradas, quantas estações. Conseguirá? Mergulhar cada vez mais fundo? O oceano é seu refúgio? Em seu derradeiro mergulho todos os peixes de seu oceano lançaram vôo, criaram asas, talvez para nunca mais voltar, pois Joana não sabe se deu tempo dos peixes criarem um mecanismo de sobrevivência fora da água. Talvez estejam mortos por aí. Mas Joana não sente falta de seus antigos peixes. Seu oceano vazio foi uma vitória. Pois um oceano vazio pode ser povoado por novos peixes. Quem sabe carpas coloridas? Joana ouviu falar que carpa traz sorte, apesar de não saber ainda qual sorte quer. Optou por não selecionar peixes dessa vez e entregar seu oceano para ser habitado pelo irrefreável da vida. Descobrir o que ela ainda não sabe dela mesma. Afastar o boicote da própria vida e o boicote do outro. E se suas asas forem como as de Ícaro e derreterem em seus vôos mais altos? E se morrer asfixiada em seus mergulhos como seus peixes antigos? Não importam os perigos. Viver dói e é perigoso, mas tem um sabor único que deve ser garimpado. Joana quer ser essa coisa viva que agora é e aprender a ter sabedoria para não afastar quem poderia fazê-la feliz e menos só.
Só como nesse domingo em que Joana espera seu amor ouvindo Piazzolla e mergulhando nos perigos de seu abismo. Domingo. Domingo. Domingo. Pensar. Pensar. Pensar doente dos olhos.

2 comentários:

aluisio martinns disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
aluisio martinns disse...

Joana é aula de vida, mas Joana pensa muito. Assim como eu. Vi Crito ser recrucificado. Só não vi sua ressurreição, Fui eu quem o matei? Sim, Joana. Fui eu quem o matou... Assim passei o dia. Fico imersonas culpas ou começo nova vida? Por onde? Tenho muito o que fazer - amar. E Joana me ensina, como Manoel de Barros que ninguém consegue fugir do ero que veio. Há outros errantes e errados em volta do meu erro. Uns consequência, outros causa. Mas com efeito, graças a Joana, acordei com uma vasosura em punho e me pus a varrer tanta sujeira.