O tema da conversa com um grupo de amigos foi o seguinte: “que mundo é esse que estamos vivendo?” Lá pelas tantas surgiu a pergunta: “vocês estão sentindo como a sociedade caminha com passos cada vez mais conservadores?”.
Há tempos estranho esse desejo desenfreado de encaixe no sistema que angustia tantos jovens. Outro ponto de estranhamento é o crescimento do discurso religioso no universo da representação política em nosso país. Nesse sentido, impossível escapar da apreciação dos conflitos na arena do cenário atual. Como protagonista, o pastor-deputado Marco Feliciano. Como indagação, os fatores que o levaram e que permitem sua permanência como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
A criação de Comissões de Direitos Humanos nas Casas do Legislativo foi conquista oriunda de um longo processo de democratização de nosso país. Sonhos, esperanças, desejos e histórias sufocadas no passado puderam, aos poucos, encontrar possibilidades de materialização positiva na vida das pessoas, com a ampliação de direitos fundamentais para as minorias.
Portanto, é de se esperar que os parlamentares integrantes dessas Comissões cultivem, como campo norteador de seus pensamentos e ações, princípios fortes de uma democracia fraternal, baseada no não preconceito.
Notoriamente não é essa a posição do deputado Feliciano. Como intérprete convicto da veracidade de sua fé, mescla o discurso religioso racista e homofóbico com o exercício de sua função pública. O pastor parece compreender que assumiu uma missão. Afirma que está cheio do espírito santo e que chegou para libertar a própria comissão de Direitos Humanos do domínio de satanás.
Discurso extremamente perigoso ecoando em um Estado laico. Com prognósticos de ampliação de representantes religiosos nas próximas eleições, como anunciam os analistas políticos. Do que já foi vivido, basta abrir as portas da História para verificar as misérias feitas pelos homens em nome de Deus, quando falam em nome do Estado. Sinal do tamanho da crise de nossos novos velhos tempos?
Ana Valeska Maia Magalhães
(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 08/08/2013)
Um comentário:
Como sempre precisa e inteligente. Prabéns querida professora. Cordial abraço .
Edilberto Nobre
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