segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A independência que vale a pena

“Quero ser independente!” Escutei a enfática sentença de Luana, uma criança de sete anos de idade. Com toda a determinação de uma férrea vontade, Luana declarava o desejo de independência diante da recusa dos pais em atenderem a um pedido seu. Ela esperneou pelos corredores de um shopping porque queria ganhar coisas de consumo, novas e sedutoras que cintilavam pelas vitrines das lojas. Ela queria o que as colegas de escola possuem e que ela ainda não tem. Os brinquedos, os aparelhos eletrônicos, os acessórios, as capinhas para celulares da moda.
Luana lançou seu grito de independência para poder consumir tudo o que desejasse.

O desejo de independência muitas vezes é confundido com a possibilidade de o indivíduo alcançar a independência financeira. Isso tem sido uma estratégia de marketing que tem propiciado resultados impressionantes.

Quando um sistema educativo lança seus investimentos para preparar o ser humano para o mercado quem escolhe o curso é a pessoa ou o mercado? O desejo de independência baseado na possibilidade farta de aquisição de bens materiais tem determinado que as escolhas dos estudantes estejam cada vez mais minadas, dependentes e submissas às regras de mercado.

É fato, vivemos em uma teia de dependências. A vida em sociedade implica a aceitação de regras e o reconhecimento de que não somos tão livres quanto gostaríamos de ser. No entanto, existe um tipo de liberdade que deve resistir à avalanche das pressões externas. É a independência que vale a pena, baseada em uma conquista árdua e diária, consistente no exame de si, no permanente diálogo com suas questões profundas, pois quem te vê por fora não sabe como é teu mundo por dentro.

Conheço pessoas que possuem independência financeira e estão infelizes, sentem como se estivessem separadas de si mesmas. É claro que é bom ter independência financeira, mas não devemos confundi-la com a condição para tudo o que devemos buscar. Em um mundo com tantas promessas fáceis de felicidade, quem quer ter “tudo” pode ficar sem ter o que mais importa. 

(artigo publicado no jornal O Povo, edição de 10/09/2012)

3 comentários:

Larissa Paes disse...

Liberdade é ter autocontrole. Procuro, através do autoconhecimento, não ser cativa de meus pensamentos e de meus sentimentos. A meditação, a leitura que edifique, o estudo de si... Exercícios, como disse, árduos e diários.
É muito difícil, mas tudo que é difícil é bom.

aridiana disse...

Na sociedade atual as pessoas corrompem-se facilmente por conta da grande necessidade que o mercado capitalista impõe as pessoas,o de ter,ter,ter mais do que o bolso do consumidor permita e com isso a tão desejada independência refletida ao ter faz com que as pessoas sintam-se com estivesse faltando algo.É obvio que sempre faltara pois quando deixamos de lado o SER para TER estamos abrindo mão de nossa liberdade e felicidade enfim de mostrar realmente a nossa essência.

Sérgio Costa disse...

Eu acho que é preciso consumir com consciência. Aliás, é preciso ser consciente em qualquer coisa na vida. A culpa não é só do consumo excessivo, mas da educação que se traz de berço. Como ensinar a uma criança - que é só impulso e sentimento - que não se pode ter tudo que ela quer? O problema é que os pais de hoje querem comprar o amor dos filhos com bens, alegando falta de tempo ou mesmo outras razões "práticas" (para eles).

Mas independência de verdade é ter mesmo um espírito livre, um coração aberto e que saiba amar, que saiba colocar o tratamento humano acima da arrogância. Falta poética na vida, faltam cores para enxergar além do cinza dos dias em que todos somos estranhos uns aos outros numa multidão frenética que acha que pensa em si.