segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tear de histórias e bandeiras ao vento

No desenrolar dos acontecimentos da semana que passou grudei a atenção dos sentidos no desfilar das linhas crescentes em números e palavras. Sete condutas criminosas, 11 ministros, 38 acusados e seus advogados, 50 mil páginas de processo, milhões de reais desviados e nós, milhões de brasileiros, enrolados nesse novelo, acompanhando o desenvolvimento das peças processuais no cenário do espetáculo chamado julgamento do mensalão.

Acompanhei alguns momentos do julgamento pela TV. Observei o desempenho do procurador da República, dos ministros, dos advogados. No entanto, em um determinado momento, meu olhar fixou território na organização do Plenário do Supremo Tribunal Federal. Vi a herança de uma longa formação cultural, carregada de tramas de poder, sofrimentos e conquistas, ritos e rigores. Fiquei um tempo como espectadora não do desempenho das ilustres figuras instrumentalizadas em seus argumentos de denúncias e defesas. Demorei observando o peso dos símbolos dispostos na parede: a bandeira, o brasão e o crucifixo.

Quanto ao crucifixo, há tempos prolifera a discussão sobre a utilização de símbolos religiosos em instituições públicas. Vivemos em um Estado laico, portanto, é pertinente a argumentação sobre a presença do crucifixo ou outro símbolo religioso, como as imagens de santos, em espaços públicos. No Rio Grande do Sul foi determinado um importante passo: a retirada dos símbolos religiosos das dependências da Justiça gaúcha.

Pensei também na bandeira da República. Na imagem da tela ela estava diferente de como é no meu tear de lembranças. Estava bem comportada, arrumada e acomodada, partícipe silenciosa do julgamento. Um pouco cúmplice da vida secreta das palavras, das pessoas, de quem sabemos alguma coisa e também de quem não sabemos, como a vida das pessoas sem emprego contratadas temporariamente para carregarem pelas ruas bandeiras de candidatos a vereador e prefeito na atual campanha eleitoral. Muitas histórias na teia complexa da vida e o real composto entre o espetáculo de performances, números, palavras, símbolos, jogos de poder, alegrias, tristezas e bandeiras ao vento.

(texto publicado no jornal O Povo, edição de 13/08/2012)

Um comentário:

Jeferson Cardoso disse...

Oi Ana Valeska!
Triste realidade: “Vi a herança de uma longa formação cultural, carregada de tramas de poder, sofrimentos e conquistas, ritos e rigores”.
Parabéns pelo blog e pela escolha da postagem! Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar O CÔNCAVO NA AXILA DIREITA DE ROSALMA no http://jefhcardoso.blogspot.com
Boa semana e aquele abraço!