No desenrolar dos acontecimentos da semana que passou grudei a
atenção dos sentidos no desfilar das linhas crescentes em números e
palavras. Sete condutas criminosas, 11 ministros, 38 acusados e seus
advogados, 50 mil páginas de processo, milhões de reais desviados e nós,
milhões de brasileiros, enrolados nesse novelo, acompanhando o
desenvolvimento das peças processuais no cenário do espetáculo chamado
julgamento do mensalão.
Acompanhei alguns momentos do
julgamento pela TV. Observei o desempenho do procurador da República,
dos ministros, dos advogados. No entanto, em um determinado momento, meu
olhar fixou território na organização do Plenário do Supremo Tribunal
Federal. Vi a herança de uma longa formação cultural, carregada de
tramas de poder, sofrimentos e conquistas, ritos e rigores. Fiquei um
tempo como espectadora não do desempenho das ilustres figuras
instrumentalizadas em seus argumentos de denúncias e defesas. Demorei
observando o peso dos símbolos dispostos na parede: a bandeira, o brasão
e o crucifixo.
Quanto ao crucifixo, há tempos prolifera a
discussão sobre a utilização de símbolos religiosos em instituições
públicas. Vivemos em um Estado laico, portanto, é pertinente a
argumentação sobre a presença do crucifixo ou outro símbolo religioso,
como as imagens de santos, em espaços públicos. No Rio Grande do Sul foi
determinado um importante passo: a retirada dos símbolos religiosos das
dependências da Justiça gaúcha.
Pensei também na
bandeira da República. Na imagem da tela ela estava diferente de como é
no meu tear de lembranças. Estava bem comportada, arrumada e acomodada,
partícipe silenciosa do julgamento. Um pouco cúmplice da vida secreta
das palavras, das pessoas, de quem sabemos alguma coisa e também de quem
não sabemos, como a vida das pessoas sem emprego contratadas
temporariamente para carregarem pelas ruas bandeiras de candidatos a
vereador e prefeito na atual campanha eleitoral. Muitas histórias na
teia complexa da vida e o real composto entre o espetáculo de
performances, números, palavras, símbolos, jogos de poder, alegrias,
tristezas e bandeiras ao vento.
(texto publicado no jornal O Povo, edição de 13/08/2012)
Um comentário:
Oi Ana Valeska!
Triste realidade: “Vi a herança de uma longa formação cultural, carregada de tramas de poder, sofrimentos e conquistas, ritos e rigores”.
Parabéns pelo blog e pela escolha da postagem! Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar O CÔNCAVO NA AXILA DIREITA DE ROSALMA no http://jefhcardoso.blogspot.com
Boa semana e aquele abraço!
Postar um comentário