No tear da madrugada, observo o ritmo do vento que balança os galhos
finos das árvores em meu jardim. É possível escutar um som suave, quase
imperceptível. Um som que é quase silêncio. Depois de uma semana sonora
demais, a ausência de sons instigou uma reflexão sobre a presença do
silêncio.
A presença do silêncio pode ser um sinal de
respeito diante do repouso ou da dor de alguém. Pode ser a comunicação
sem palavras entre dois enamorados, prometendo mundos e eternidades por
intermédio do olhar. Pode ser a privação de algum sentido a ensejar o
desenvolvimento de outro canal de fala e escuta. O silêncio também é
característico dos prudentes e dos contemplativos. No primeiro caso,
sabem que a palavra pode ferir, e, no segundo, sabem que diante da
beleza do mundo é melhor silenciar e ver além.
Muitas
pessoas caçam os espaços de silêncio porque sabem que o silêncio fala. O
silêncio é importante na leitura, quando realmente queremos sentir o
impacto das palavras, sabemos que o silêncio é nosso companheiro. Se o
mundo está confuso, se as relações que estabelecemos com os outros
atritam ao ponto de machucar, o encontro com o silêncio pode revelar
situações despercebidas.
Autoconhecimento combina com
silêncio, pois é atividade introspectiva que busca alcançar um diálogo
mais profundo, um falar verdadeiro tantas vezes sufocado pelos sons de
fora. Um som interior que sabe que há mais para ver no que é visto e que
as palavras escondem outras palavras. Somos feitos de silêncio e som
como diz a letra da música. No entanto, seja som ou silêncio, existe a
hora de falar e a hora de calar.
Na semana passada, os
depoentes na CPI que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com
políticos e empresários preferiram calar. Foi um silêncio amparado pelo
Direito e também foi um silêncio que escondeu a verdade que todos querem
saber, porque é de interesse público. O som de um silêncio incômodo que
ecoa, madrugada adentro. O som de um silêncio que omite a verdade e
fala alto, bem no coração de nossa história coletiva.
(artigo publicado no jornal O Povo, edição de 04-06-2012).
4 comentários:
A Grande Opressão Mundial tem como objetivo suprir a lembrança do indivíduo sobre o silêncio que em si existe: "eles" sabem que se o indivíduo lembrar de escutar este silêncio, ele ouvirá a Presença, tornar-se-á mestre de si mesmo e jamais se subjugará aos poderes seculares.
Sucesso, Ana.
O silêncio inspira a arte de observar. De sentir o cosmos dentro de cada um, fluindo como as forças que movem os sentidos. Viemos do cosmos, somos poeira de estrelas, feitas de energia e silêncio - visto que não há som no espaço.
Nossa conexão com o Universo vai muito além do que podemos tentar entender. Mas a profundidade do silêncio, parte do Infinito, é nossa linguagem mais íntima e verdadeira e vem nos lembrar dessa paisagem de códigos visuais e emoção pura que ora precisamos exercitar e também tomar lições.
Parabéns novamente, querida Ana, por tão lindas e doces palavras!
Meu carinho e admiração eternos por você!
Há ocasiões em que o silêncio de uma pessoa torna-se mais sábio do que qualquer palavra que poderia ser pronunciada.
Parabéns Ana Valeska pelo artigo do jornal o povo do dia 04 deste mês. cordial abraços
Edilberto Nobre
Parabéns !
Muito legal seu blog...sucesso sempre..abraço.
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