Enquanto caminhamos

Do carro, manhã florescendo, indo para o trabalho, observo o cotidiano da cidade grande. Engarrafamento, buzinas dando voz às inquietudes dos motoristas e fileiras de motos apressadas costurando atalhos. Em mim farfalham pensamentos quando vejo uma revoada de pássaros por entre a imponência fria dos arranhas céus.  Tão mais bonita a vida com asas. Enquanto isso, meu carro anda mais devagar do que os transeuntes, sigo a rodas miúdas e observo um senhor caminhando pela calçada, satisfeito com o pão do dia. Uma mulher jovem corre ouvindo músicas em seu iPod e o cabelo está preso com um rabo de cavalo balançando ao vento. Dois policiais fazem pose de justiceiros, três meninos cheios de vida passam pelo buraco da cerca para pescar em uma lagoa proibida, outra mulher chama a atenção pela forma como se agarra à bolsa que ela teme tanto perder.  Muita gente falando ao celular, muita gente vasculhando lixo, muita gente com cara irritada, sem olhar, sem olhar, com pressa de chegar a algum lugar para depois ter pressa de voltar, sem lembrar que, enquanto caminhamos, enquanto realizamos as mais banais das tarefas, a vida acontece.