segunda-feira, 4 de julho de 2011

Transformar as estruturas

O escritor Octávio Paz certa vez afirmou: “Em tempos de crise, uma sociedade volta seu olhar para o seu próprio passado e ali procura por algum sinal”. No aspecto individual ou no coletivo, as teias do passado fornecem pistas para a compreensão de problemas da contemporaneidade.

Quando leio as notícias que jorram no cotidiano sobre crimes contra a administração pública, negócios fraudulentos, conchavos políticos, sei que não são fatos novos e para compreendê-las melhor entro no barco da história.

Do passado ao presente é explicitada uma formação social estruturada em base conservadora, burocrática e patrimonialista, que tributou, desde cedo, a naturalização de privilégios de poucos enquanto a maioria é explorada.

O modelo de Estado atravessou o tempo comprometido em defender interesses das elites. O campo de forças de uma economia de mercado, com teor individualista, constrói um imaginário social que reforça a percepção de uma realidade que, no âmago, sempre será a mesma.

Temos essa herança estrutural, porém mutável. Vivemos em uma democracia que encontra o desafio imenso de transformar as estruturas. Em minha rotina de trabalho é comum ouvir dos estudantes manifestações de profundo descrédito com relação à política. O desencanto é tamanho que já não se importam com as falsas promessas de muitos políticos de ofício. Perderam o interesse na construção comunitária. Costumo argumentar que participar politicamente não se resume ao voto episódico e o ser cidadão é uma realidade materializada na vivência do ideal de que somos todos integrantes de uma comum unidade e que um crime contra o que é público é um crime contra a nossa própria integridade.

Construir-se como cidadão que leva viva no coração a percepção de que integra um povo e que é a partir de nós que o poder emana (art. 1º, Constituição Federal/88). Nesse sentido, mais visível será a transformação da estrutura. Afinal, como afirmou Pedro Demo, estrutura é apenas o suporte mais sólido da dinâmica.

(artigo publicado no jornal O Povo, edição de 04/07/2011)

3 comentários:

Sérgio Costa disse...

Apesar de ser estudante de comunicação, sou extremamente contra o tipo de mensagem nas propagandas políticas em época de eleição que dizem "Seja CIDADÃO: Vote!".
Para mim, isso é um dos maiores engodos hipócritas que se criou na nossa história política. Uma armadilha pra fazer nossa massa fingir que assume um tipo de atitude altruísta numa época em que o interesse converge só para os poderosos. Nossa política tem que mudar, óbvio, faz muito tempo. Mas o povo é cidadão o ano inteiro, a cada momento em que se insere na defesa da sociedade e não se cala quando os interesses do poder querem domar nossa inteligência.

Ana Valeska Maia disse...

Está na hora de transformar essa estrutura.
Bj!

Anônimo disse...

Valei Sergio Costa, falou e disse, assino em baixo. Ana Valeska esse rapaz vai longe, boa sorte garôto. beijo ANA VALESKA. Edilberto Nobre