segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sobre vícios e sentidos

Quando Diego percebeu estava viciado. Todos os momentos de seus dias e noites eram dedicados à manutenção do vício. Com o tempo comprometido no cárcere do vício, alimentava-se mal e não praticava exercícios. As consequências da dependência começaram a surgir: pressão alta, ansiedade, taquicardia, insônia, agressividade. Sua companheira constantemente verbalizava a insatisfação com a situação de ausência do lar e negligência na educação do filho. O casamento chegou ao fim. Os amigos sumiram.

Trabalho é o vício de Diego. Ele é um workaholic, expressão utilizada para designar os viciados em trabalho. Como ele, muitos caminham sufocados pelo nó da gravata que aperta os dias e doutrina a ocupação do tempo. Jornada de trabalho que começa com os primeiros raios de sol e segue intensa sem momento para conclusão. Os viciados chegam a trabalhar até 16 horas por dia, sem descanso nem lazer, impactados pela pressão do império das metas e resultados. Produtividade é a palavra chave. Quantas portas abrirá?

O tempo revela o sentido das páginas que escrevemos no livro de nossa vida. Com o tempo, chega o aprendizado de que sempre haverá a hora de virar a página e começar outra vez. Diego percebeu que suas escolhas profissionais tributaram um adoecimento do ser e um distanciamento das pessoas que ele amava. Alberto Caeiro anunciou o desejo de se “despir do que aprendeu, raspar a tinta com que lhe pintaram os sentidos, desencaixotar as emoções verdadeiras, desenbrulhar-se”. Tenho pensado muito nessas palavras, no “desembrulhar de si”.

Nas conversas com os estudantes, encontro alguns viciados em trabalho, outros que alegam precisar da tripla jornada para sobreviver. Escuto queixas sobre a vida automatizada e a falta de tempo para sentir a poesia da vida. Muitos estão doentes e infelizes. Nesses momentos de busca, costumo dar um conselho: “Pergunte para você mesmo sobre qual é o sentido de você viver”. Existe uma razão maior e é lá que está a chave.

(artigo publicado no Jornal O Povo edição de 06.06.2011)

11 comentários:

Andréa Beheregaray disse...

Sabe o que sempre me pergunto? E se no meio disso eles efetivamente perdem a vida?
Digo efetivamente por que o excesso de trabalho é uma forma de estar morto, mas a morte do corpo, áh quanto disperdício de vida.

Beijos.

Sérgio Costa disse...

Trabalho dignifica, mas também aprisiona e nos deixa cegos por um "futuro melhor" que nunca chega. Quem dirá se realmente vamos trabalhar tanto pra ganhar mais? Isso me lembra também um texto que recebi, acho que era do Arnaldo Jabor sobre escolher entre ganhar dinheiro ou aproveitar a vida. Por que nos dedicarmos a algo que às vezes nos deixa cegos pra nós mesmos? Tenho um amigo que casou, trabalha numa empresa própria junto com a mulher o dia inteiro e só chega cansado e mal sai pra passear com ela ou com os amigos. Que tipo de casamento é esse onde não se aproveita? Certamente não é o que quero pra mim, pelo menos.

Até lá, o tempo dirá!
Vivamos a vida com mais leveza, o que não significa deixar de ser responsáveis, claro!

Ana Valeska Maia disse...

O segredo é encontrarmos o equilíbrio. Sabemos disso, mas às vezes automatizamos uma rotina que nos faz esquecer.
Bjs!

Carol Morais disse...

E como tento me afastar disso tudo. Não sei se já virou um vício, mas uma necessidade. Todo vício é uma necessidade. Pode ser vício também. Vício maior é também procurar algo em que se viciar. Minha vida não é vida sem projetos, anseios futuros e compromissos. Nós acabamos por doar muito de nós mesmos à sociedade e esquecemos que os conhecidos, próximos, pessoas que nos amam são alicerce que nos deixam em pé para enfrentar tudo e todos. Eles precisam de nós e nós deles. Um troca infinita, deveria ser infinita. Pessoas vão-se embora para sempre. Memórias ficam, empregos surgem nos jornais diariamente. Uma vida corrida. Não se fazem mais passeios no parque e as saídas todas são agendadas. Vivemos contra o tempo e colecionar inimigos eternos não faz de nós seres humanos, mas pedaços de carne em busca de metas.

Ana Valeska Maia disse...

Nossa Carol, ainda estou viajando no barco das tuas palavras.

Anônimo disse...

Quanto a pergunta feita pelo autor, vou dar minha opinião:

Não é possível que a gente passe uma vida toda achando que veio aqui para levantar todos os dias para fazer a mesma coisa que sempre e que sempre faz! Sua existência é muito mais importante do que você imagina. Você é parte de um organismo, é como uma molécula de toda uma existência. Tudo que você faz interfere diretamente no funcionamento desse organismo. A sua vida é importante para todos que estão ao seu redor por mais que nem você nem ninguém perceba isso. Você vem com a chance de melhorar, de evoluir e de fazer diferença para a vida das pessoas que surgem sempre no seu caminho. Sua existência nesse mundo não tem só como motivo a sua evolução, engana-se quem preocupa-se apenas em evoluir.A tua vida também faz parte da evolução das outras pessoas que precisam da sua aparição.

Quanto ao trabalho, dignifica a pessoa humana, qualquer tipo de trabalho, faça com amor profissão.
Essa matéria ANA VALESKA, é interessante. beijos . Edilberto Nobre

Ana Valeska Maia disse...

Edilberto, você é 10!

Anônimo disse...

O vicio mim contaminou, agora sou um viciado em leitura. E AGORA! Não consigo abriu o computador sem primeiro passear em seu blog ANA VALESKA, onde encontrou matérias interessantes e de alto nível , aí eu mim sinto uma tessitura. É por isso que recomendo seu blog aos meus amigos. Não se preocupe já estou internado em uma clinica que se chama "livraria", não posso passa em frente a uma que adentro. bj. Edilberto Nobre

Anônimo disse...

É Ana Valeska realmente esse meu amigo Edilberto é 10, gostei muito da postagem dele no seu blog. Sempre visito seu Blog, é legal e educativo. Aproveitando a ocasião se voce mim permite, desejo feliz aniversário pro Edilberto, amanhã ele fica mais velhinho, risos. Falar em Edilberto, vou pedir a ele que leve o livro Tessituras pra voce colocar dedicatória, pode ser, agradeço, abraços ARLETE

Ana Valeska Maia disse...

Que notícia boa Arlete, hoje aniversaria uma pessoa muito especial chamada Edilberto! Quero desejar pra ele tudo de bom, muita paz e muito amor, ele merece!

Arlete: terei o maior prazer de fazer a dedicatória!

Anônimo disse...

estou sem palavras para agradecer. muito obrigado. beijos