quarta-feira, 29 de junho de 2011

A nuvem da lembrança: de Mia Couto a Woody Allen


Chove intensamente em Fortaleza e começo meu segundo dia de férias embalada pelo som e o ar fresco da chuva, que sempre impõe um clima de nostalgia. Sigo em um passeio visual pela estante de livros e inicio com o conto “Inundação”, da obra “O fio das missangas”, de Mia Couto. Dos contos que integram o livro esse é o que mais me afeta, provavelmente pelo tear das memórias, o fantástico mistério do tempo e o surrealismo da narrativa. Dele destaco o começo: “Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança.”.

Na nuvem da minha lembrança estão frescas as imagens do filme “Meia Noite em Paris”, com roteiro e direção de Woody Allen. Amei o filme pela direção segura conduzida por uma narrativa que permite encontros fantásticos. No horário mágico da meia noite abre-se para o escritor Gil Pender um acesso ao passado, a Paris nos anos 20 resplandece e com ela o encontro de grandes artistas como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Salvador Dali, Pablo Picasso, Cole Porter, Man Ray, Louis Buñuel, Gertrude Stein. Esse encontro com o passado definirá a condução do presente para o escritor. A cidade de Paris surge como a principal personagem do filme, tendo como fio condutor, do início ao fim, o laço da nostálgica e bela imagem de Paris quando chove. Nesse exato momento ainda chove em Fortaleza e Paris é viva e brilhante em mim. Retorno ao passado e nela viajo como uma ave de asas fartas, na nuvem de minhas lembranças.

2 comentários:

Eduardo Porto disse...

Eu só digo uma coisa sobre esse filme: rinocerontes!

Ana Valeska Maia disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!