sexta-feira, 25 de março de 2011

Por um copo de mar


Quanta
falta faz poder demorar nos braços do tempo, pensar, sentir, escrever, vivenciar internamente os fluxos das indagações sobre o sentido da vida que levamos, talvez reverberar algumas de minhas luminescências. O fato é que as obrigações do trabalho invadiram a rotina de meus dias e noites. Olhar opaco, brilho embaçado pela ditadura dos prazos e disciplinas transbordantes diante de mim e as horas são algozes.

Preciso aprender a navegar nesse mar para não me afogar.

Comecei a refazer cenas de um filme antigo: promessas para um futuro próximo, resmungando com meus botões que não faria mais isso comigo, essa tolice de me encher de tarefas e não conseguir saborear o tempo que posso chamar de meu. O tempo de estar aqui, escrevendo para o blog, por exemplo. O tempo para ler literatura, filosofia, teatro. O tempo para passeios, conversas com amigos antigos, com novos amigos. Liz Taylor morreu e eu nem rememorei as passagens da vida em que estive mergulhada na narrativa dos filmes, encantada com os olhos violeta da atriz, seus movimentos leves, eu e minha avó curtindo amalgamadas as estórias de amor dos filmes antigos.

Nas inquietações acerca do tempo encontro a poesia de Jorge de Lima (Invenção de Orfeu), que meu querido Agnaldo Farias escolheu para entrelaçar os trabalhos da Bienal de São Paulo 2010: “Mesmo sem naus e sem rumos/ mesmo sem vagas e areias/ há sempre um copo de mar/ para um homem navegar”.

Minutos navegando em meu copo de mar com águas Taylor cor violeta.

Águas transbordantes em miscelânea de cores, afetos, memórias em um gigantesco copo de mar que é meu, seu, de todos nós.

4 comentários:

Emmanuela disse...

Que lindo! A homenagem mais bela que já li.

Ana Valeska Maia disse...

Oi Emmanuela,
Grata pelas palavras.
Visitei teu blog e gostei muito do que li. Vez em quando apareço por lá.
Bjs.

Joanita Rebeca disse...

Foi confortante mergulhar na reflexão de suas lindas palavras... me instigou a percepção de refrear os passos apressados e sentir mais profundamente a vida.

Ana Valeska Maia disse...

Abraçar mais a vida minha querida Joanita!