sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O hospital que adoece

Estive em um hospital. Para uma consulta de rotina. Eu não precisava de um hospital. Estava me sentindo muito bem. Mas todos dizem que temos que ir. Então eu fui. Tinha muita gente lá. Todas as pessoas do hospital com cara de doença: os doentes que estão doentes, os atendentes, os médicos, as pessoas que estavam no hospital para terem a certeza que está tudo bem com elas, todos tinham cara de doença.

A atendente foi mais grossa do que a lixa que comprei para arrancar o verniz do móvel que quero repintar. Se eu pudesse lixava a cara dela e pintava um sorriso. Mandou que eu sentasse e esperasse ser chamada. Obedeci. Esperei umas duas horas para ser atendida. A demora no atendimento e a energia pesada do lugar injetaram em mim uma dose de stress. Eu, que estava super bem, comecei a sentir as costas doerem. Então, finalmente, chegou minha vez. O médico perguntou por que eu estava ali. “É só para saber se está tudo bem comigo, doutor”. “Certo”, ele disse. “Vou passar os exames que você tem que fazer: ureia e creatinina, urina tipo 1 (EAS), TGO e TGP, ácido úrico, colesterol total e frações, triglicérides, glicemia, sorologia, raio X de tórax, papanicolau, ultrassom transvaginal, abdominal, da mama, do pescoço, ah, vou passar também um teste ergométrico”. O médico parecia falar no piloto automático, como os atendentes de rede de fast food. Saí do consultório com um monte de papéis de exames na mão, calculando o melhor dia para cumprir a jornada hospitalar. Mais tarde, quando voltei para casa estava me sentindo doente. No dia seguinte fui trabalhar cheia de dores, pálida, com cara de doença. Uma colega de trabalho sugeriu que eu fosse ao hospital. Mas foi o hospital que me adoeceu!

O sistema de saúde ocidental adoece a gente. Além disso, existe uma economia lucrativa com o adoecimento da população. Sabemos da força da indústria de medicamentos, ou da indústria dos exames, da indústria dos profissionais da doença. Quanto mais você fica doente, mais lucro para essa galera. Conheço tanta gente que se entope de remédios. Sei que não se encontra saúde em hospitais nem nos frascos de comprimido. Saúde é fruto de uma higiene mental e da mudança de hábitos. Saúde rima com amor, com cuidado, com zelo por nós mesmos. Passa pelo que você pensa, fala, bebe ou come.

Já estou melhor, limpando a energia da contaminação hospitalar. Lembro que terei que voltar para cumprir a jornada de exames. Poderia ser melhor do que foi. Com uns sorrisos varrendo a doença. Como doutores da alegria.



5 comentários:

Eduardo Lemon disse...

Estes dias, aqui em Manaus, fiz semelhante coisa, nada demais, eu estava mesmo doente... fui a rede pública e ouvi uma senhora deitada numa maca (devia ter seus 80 anos) pedindo a filha: -Quero morrer em casa... correu raio gelado na coluna. Tanta vida pedindo misericórdia.

Bruno Portella disse...

Não sei se é real ou ficção, rs. Mas um hospital que adoece daria uma boa história.

Carlos Quezado disse...

Gostei do texto.
Por isso me mantenho o mais longe possível de hospital e assim me mantenho saudável. O sistema de saúde do Brasil adoece qualquer um.
Imagine como você se sentiria de tivesse ido a um hospital publico, pelo SUS e ter esperado no minimo umas 8 horas, rs.
Ah, parabéns pelo Blog.

Steven Douglas disse...

É Ana.. muitos médicos e enfermeiras também estão ''doentes''. Quase não vou a hospitais, e das poucas vezes que precisei tive péssimas experiências.. quase parti dessa pra melhor por causa de uma simples apendicite.. realmente bom seria se tivessemos um pouco mais de alegria nesses lugares. Quanto aos remédios.. minha avó tem 85 anos e se mantém saudável bem longe deles.. a natureza é uma fonte inesgotável de saúde. Pra citar só uma planta que substitui quase todas essas drogas vendidas em farmácias(que concertam uma coisa e destroi outras tantas).. a babosa. Pena que não passam isso pra sociedade. Pra esse sistema é ''interessante'' manter o mundo doente, a industria farmaceutica gera muita grana!.. assim como a carne, o petróleo, os bens superfluos.. é o dinheiro fingindo dá saúde, satisfação, progresso e felicidade. Mas caminhamos, caminhamos.. e um dia essa página será mudada.
Eita.. sempre me empolgo quando comento no seu blog Ana.. rsrsr..

Bjos e bom feriado.

Roberto Pinto disse...

Ana

Vivir de la manera como estas personas viven és glorioso, pues traer un poquito de felicidad para estos niños és fundamental para la consecución de sus vidas.

Entonces, ellos merecen todas las palmas posibles.

um grande abrazo, bella Ana.