quarta-feira, 12 de maio de 2010

Experiências antropológicas contemporâneas

Terça, noite, pés doendo da jornada e aproveito o momento do intervalo da aula para beber um gole de café na sala dos professores. A sala lotada, pego o café e fico em um cantinho, para observar. Cenário: um grupo, totalmente masculino, discutindo inflamados a seleção do Dunga para a copa na África do Sul, com gestos beirando uma crise histérica, gritando os nomes dos jogadores escalados, uns indignados pela ausência do Adriano, do Neymar e do Ganso? Ganso??? Aos ouvir os grunidos, os outros homens na sala, que estavam dispersos, lendo emails, lendo jornal, quando percebem o assunto, vão se unindo ao bando, e eu vejo o poder da coisa, todos os homens, todos unidos por um laço em comum: o futebol.

Um pouco distante, um grupo mais reservado, todo de mulheres, acariciava a barriga de uma das professoras que está grávida e cada uma das integrantes do grupo falando dos filhos, aproveitando o momento para tecer lamentações sobre as empregadas que dão trabalho, “aquilo é uma safada”, “esse tipo de gente é assim mesmo”, foi o que ouvi! Essa doeu. Principalmente o que me causou arrepios é porque é ela quem vai explicar os direitos “desse tipo de gente” em sala de aula. Outra reclamava do marido que não gostou da reforma da casa, e na seqüência uniram-se todas em torno de um laço em comum: uma bolsa nova.

Foi um episódio que me fez lembrar de algo que minha mãe narrava sobre seu enfado de ir a festas de aniversário quando era casada. Ficava sempre um grupo do bolinha e outro da luluzinha, discutindo sempre os mesmos assuntos, profundamente desinteressantes para ela.

Parece, mãe, que os assuntos continuam os mesmos. E as pessoas continuam a achar esquisito quando declamo poesia pelos corredores.

4 comentários:

Florêncio E. disse...

Dá orgulho poder viver essas esquisitices poéticas que acontecem pelos corredores, com a linguagem que penetra na realidade de modo que exercita um olhar mais crítico e sensível para enxergar a imensidão das coisas mínimas que são fantásticas.

Beijo Ana-linda!

Ana Valeska Maia disse...

Bj Eulândia-Flor!

Eduardo Porto disse...

No fim das contas fica aquela frase que não lembro de quem é: "Grandes pessoas discutem idéias, pessoas médias discutem fatos e pessoas pequenas discutem pessoas." Fica aí a reflexão.

Bjs.

Ps.: Ri muito com o "Ganso??"

Aline Lima disse...

Como eu quero te encontrar em todos os corredores da minha vida! declamando poesia, claro! =***