quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mergulhando nas vísceras do PNDH3: quem tem medo da verdade?

No post passado falei sobre a vida presa ao tear das memórias. Sim, não devemos ficar presos ao passado, mas temos obviamente, de olhar para ele, pois somos o resultado do que vivemos, do que passamos. Todo ser humano enfrenta vicissitudes na vida. Sabemos que a pessoa, para crescer, precisa olhar para si, para o universo que existe dentro dela, para suas várias faces, com seus anjos e demônios, guerreiros e monstros, erros e acertos. Esta é a essência do “conhece-te a ti mesmo” socrático, esta é a busca freudiana nos labirintos do inconsciente, este é o sentido mítico da jornada do herói, simbolizado de uma forma magistral na série Star Wars, de George Lucas. Quando a pessoa consegue olhar para si sem máscaras, lançando um olhar genuíno, possível e humano para si e para os outros ela cresce e costumam chamar esse crescimento de maturidade.

Assim como acontece na jornada do indivíduo, deve acontecer também na jornada coletiva, de um país, por exemplo, como o Brasil. A polêmica envolvendo o PNDH3 é sintomática e tem um aspecto estrutural, de crucial importância para a sociedade brasileira. É uma agitação de superfície que revela profundidades, pois é mais uma constatação que corrobora um problema que criou raízes desde a invasão do Brasil, alicerçando um movimento apoiado em privilégios de poder. Uma sociedade de base colonial, patriarcal, escravocrata e latifundiária reverbera sua herança: mesmo pós-constituição cidadã, vivemos mergulhados em uma democracia farsante.

A herança do regime autoritário representa um fardo pesado para desconstruir, até porque atualmente tanto já foi introjetado que convivemos com a hipocrisia típica de uma democracia autoritária, com uma lógica de poder doentia que nos tributa a pobreza política, bem evidenciada pela lucidez do sociólogo Pedro Demo. Somos infantis como sociedade. Jogamos a sujeira para debaixo do tapete, colocamos uma máscara sorridente, vegetando em frente ao Big Brother que é traiçoeiramente o espetáculo de nossa vida coletiva, de uma sociedade que ainda vive na caverna da consciência, presa na cultura capitalista do narcisismo. É hora de crescer, de amadurecer e vivenciar em nosso dia a dia a democracia direcionada pela vontade do povo, que deve agir como um contrapoder social sempre que as armadilhas que criam obstáculos para nossa maturidade coletiva forem armadas.

Nesse sentido não temos que ter medo da verdade, de nosso passado, do que foi vivido. Saber nossa jornada real é condição de crescimento social. Também temos que debater como adultos questões polêmicas que integram a contemporaneidade brasileira. Temos, emergencialmente, que desmantelar as armadilhas autoritárias que ainda persistem. Hoje está em Fortaleza o representante da Comissão Federal de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos - ligada a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Oscar Gattica, que participará de um debate mediado pelo verador do PSOL, João Alfredo, defensor incansável dos Direitos Humanos e das questões ambientais. Eles debaterão na Câmara Municipal de Fortaleza questões ligadas a criminalização dos defensores de direitos humanos. Esse debate é importantíssimo, pois vivemos um processo cruel e perigoso de censura e autocensura (Bourdieu). Lamentavelmente, mesmo vivendo em uma democracia, quem fala e quem faz o que deve fazer está sujeito a penalidades. Esse processo de criminalização está acontecendo na prática, aqui no Ceará, por exemplo, com as seguintes pessoas: a missionária indigenista Maria Amélia Leite, contra Raquel Rigotto e Islene Rosa - por denunciarem a poluição em Maracanaú -, contra a advogada Nayanna de Freitas, por defender as Dunas do Cocó, contra o professor Joeovah Meireles e o jornalista Daniel Fonseca e contra o Defensor Público Tiago Tozzi, entre outros.

ois sabemos que, mesmo vivendo em uma democracia, nsura (Bourdieu), em que e do povo, maturidade. A reunião pública acontece no plenário do Legislativo municipal, a partir das 15 horas e será mediada pelo vereador João Alfredo (PSOL).

3 comentários:

daniel simões disse...

se não estivesse como estou, iria.
vai ser filmado? e vai ficar no domínio público?

Ana Valeska Maia disse...

Daniel, foi filmado pela TV Fortaleza.
Podemos conversar pessoalmente mais sobre isso, se você quiser compreender melhor a situação.
Bjs.

Anônimo disse...

Ana, o que me encanta, cada vez mais, em você e' essa capacidade de transitar por assuntos tão diversos quanto essenciais, compreender a conexão entre eles e traduzi-los, com clareza e densidade, para no's, seus blogolatras fieis. Parabéns e bj grande nesse coração imenso.
Com amor e admiração. Sempre.
Jô.