“E se fosse diferente?” Li esta pergunta na apresentação do livro de
poemas da polonesa Wislawa Szymborska. Uma pergunta que ecoou bastante
em mim. Como o real também é feito de conexões, as palavras do escritor
Eduardo Galeano sobre a necessidade da utopia iluminaram o céu dos
pensamentos que antes estavam cinzentos. “A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e
o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não
deixe de caminhar.”
O sonho, a utopia, a arte. Como
viver sem a fertilização desses territórios desconhecidos? “E se fosse
diferente?” O artista faz essa pergunta constantemente. E uma nova
composição de palavras, sons, cores, movimentos e percepções de mundo
irá surgir.
Pensei que seria muito bom se fosse diferente a
atual situação de descaso com a política pública para a cultura no
Ceará. As notícias que circulam são desoladoras. Os servidores clamam
por mudanças, os artistas também e sem incentivos adequados como
desenvolver as linguagens artísticas para que essa arte chegue para
alguém? Para que faça alguma diferença na vida das pessoas?
“E
se fosse diferente?” A pergunta ecoa. Sabemos que muitas vezes a
realidade não é o que parece. Nosso cotidiano coloca diante de nós uma
série de acontecimentos maquiados, disfarçados, que aos poucos vão
sepultando nossas crenças. O universo da campanha eleitoral é exemplo
disso. Observo os rumos da campanha política pela TV e pelas ruas e
salta o ranço de coisa passada. A gente tem que engolir essa coisa
mofada? Tudo igual ao que foi feito em campanhas anteriores. Velhas
promessas vestindo roupas novas. Maquiagem na aparência, laser nos
dentes e sorriso de medusa nas imagens.
“E se fosse diferente?” A pergunta ecoa. E com ela um convite nas entrelinhas para sonhar outros possíveis.
(publicado no jornal O Povo, edição de 27/08/2012)
Um comentário:
Apesar de ser publicitário, essas campanhas na TV me fazem é rir. Principalmente desses ditos mais "poderosos". Mas, tristemente, rio da nossa própria desgraça: a de colocar esses caras no poder novamente.
E o ciclo se repete: um sofrimento onde nós, ao final - e como sempre - pagaremos a conta. É isso o Brasil? Acho que não é só isso, apesar de ser esse sofrimento imenso e a certeza de que tudo está fora do lugar quando se fala em poder público. Eu sonho com um Brasil lindo que realmente é, mas que muita gente não olha com os devidos parâmetros e emoções.
Pois ser outros possíveis é nossa missão. Pavimentar nossos próprios caminhos contra a maré das dificuldades, acho que esse é o sentido de existir, de lutar. "Ad astra per aspera" - o caminho difícil leva às estrelas.
Parabéns de novo, Ana. Sábia reflexão como sempre!
:)
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