Muitos pensadores já afirmaram que a mudança é o que existe de mais 
constante no mundo. Observe o ritmo da natureza, os ciclos, as estações,
 as transformações. Do nascer ao morrer, a história humana é tecida 
unida às mudanças da natureza. “O homem não inventa uma canoa só porque 
deseja cruzar o rio ou vencer o mar, mas inventando a canoa ele toma 
consciência do mar, do rio, da canoa e de si mesmo”, afirma Roberto 
DaMatta. Essa tomada de consciência, que é o dar sentido às coisas do 
mundo, é também um dado fundamental de nossa humanidade.
Nos
 movimentos de uma dança, na interpretação dos atores numa peça, no 
livro que inspirou um bater mais forte de coração, quanta vida existe! 
Como viver sem cultura? Impossível. “A gente não quer só comida”, dizem 
os Titãs, e até a comida pode ser significada de tantas formas e com 
tantos aromas e sabores. A música pode ser um convite à introspecção, ao
 encantamento, à reflexão profunda, assim como um poema de repente nos 
toca além do que sabíamos sentir. Inquietações, tristezas ou alegrias do
 humano ganham vida nova por intermédio da linguagem da arte, que se 
sustenta de fato quando alicerçada na busca de uma verdade. 
Cultura:
 entrelaçar do humano, o único manifestado em sentido universal, 
patrimônio criado para ser compartilhado, alimento do espírito. Por isso
 é tão importante possibilitar condições de um florescer cultural 
abrangente, e o Estado tem o dever de propiciar políticas culturais 
eficazes. A situação na Secretaria de Cultura do Ceará é emblemática de 
um descaso que não é novo, mas que pode e deve mudar. 
Sacrificar
 a cultura é menosprezar a vida. É criar obstáculos ao pensar sobre as 
mudanças do mundo, sobre questões sociais relevantes e formas de 
exercício do poder, sobre o amor, a dor e o desejo, a chuva e o sol, as 
noites e dias que nos atravessam em nossas solidões e encontros, em 
nossas dúvidas e certezas. 
Valorizar a cultura é valorizar o 
cultivo de um olhar sensível, criativo e renovador, inesgotável como é a
 nossa possibilidade de dar sentido ao que existe. 
(texto publicado no jornal O Povo, edição de 16/07/2012)
Um comentário:
O mundo é poesia escapando aos olhos da velocidade que nos abocanha. Libertar esse grito, essa força é essencial quando os sentimentos são pulsantes e necessita do devido espaço. Até quando nosso Estado vai operar "protopolíticas" que não valorizem o que há de mais liberto e criativo no ser humano? Espero que isso passe logo, pois a arte urge por pessoas pensantes que a contemplem com mais carinho e reflexão.
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