segunda-feira, 16 de julho de 2012

Você tem fome de quê?

Muitos pensadores já afirmaram que a mudança é o que existe de mais constante no mundo. Observe o ritmo da natureza, os ciclos, as estações, as transformações. Do nascer ao morrer, a história humana é tecida unida às mudanças da natureza. “O homem não inventa uma canoa só porque deseja cruzar o rio ou vencer o mar, mas inventando a canoa ele toma consciência do mar, do rio, da canoa e de si mesmo”, afirma Roberto DaMatta. Essa tomada de consciência, que é o dar sentido às coisas do mundo, é também um dado fundamental de nossa humanidade.

Nos movimentos de uma dança, na interpretação dos atores numa peça, no livro que inspirou um bater mais forte de coração, quanta vida existe! Como viver sem cultura? Impossível. “A gente não quer só comida”, dizem os Titãs, e até a comida pode ser significada de tantas formas e com tantos aromas e sabores. A música pode ser um convite à introspecção, ao encantamento, à reflexão profunda, assim como um poema de repente nos toca além do que sabíamos sentir. Inquietações, tristezas ou alegrias do humano ganham vida nova por intermédio da linguagem da arte, que se sustenta de fato quando alicerçada na busca de uma verdade.

Cultura: entrelaçar do humano, o único manifestado em sentido universal, patrimônio criado para ser compartilhado, alimento do espírito. Por isso é tão importante possibilitar condições de um florescer cultural abrangente, e o Estado tem o dever de propiciar políticas culturais eficazes. A situação na Secretaria de Cultura do Ceará é emblemática de um descaso que não é novo, mas que pode e deve mudar.

Sacrificar a cultura é menosprezar a vida. É criar obstáculos ao pensar sobre as mudanças do mundo, sobre questões sociais relevantes e formas de exercício do poder, sobre o amor, a dor e o desejo, a chuva e o sol, as noites e dias que nos atravessam em nossas solidões e encontros, em nossas dúvidas e certezas.

Valorizar a cultura é valorizar o cultivo de um olhar sensível, criativo e renovador, inesgotável como é a nossa possibilidade de dar sentido ao que existe. 

(texto publicado no jornal O Povo, edição de 16/07/2012)

Um comentário:

Sérgio Costa disse...

O mundo é poesia escapando aos olhos da velocidade que nos abocanha. Libertar esse grito, essa força é essencial quando os sentimentos são pulsantes e necessita do devido espaço. Até quando nosso Estado vai operar "protopolíticas" que não valorizem o que há de mais liberto e criativo no ser humano? Espero que isso passe logo, pois a arte urge por pessoas pensantes que a contemplem com mais carinho e reflexão.