segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Como viver?

Vez ou outra surge um desconforto. É a correria do dia a dia. São tantos papéis, tantas expectativas, desejos e compromissos recheando os dias. Ocupando nosso tempo.  Essa quase ditadura da atividade constante,  tão característica de nosso século, desperta em mim muitas inquietações e meu desassossego está fomentando uma pergunta bem básica que inclusive você, que agora lê este texto, já deve ter feito várias vezes durante o caminhar da existência. Afinal de contas, como viver? 

Estudando mitologia paro diante das palavras de Joseph Campbell, que foi um grande pesquisador dos mitos: “Dizem que o que todos buscamos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos”.

Lembrei do mito do Herói do Labirinto. Da aventura de Teseu no enfrentamento do Minotauro e na relevância do fio presenteado por Ariadne. Sem o fio, como Teseu encontraria a saída?   Mesmo matando o monstro seria prisioneiro do labirinto. Pensei como esse mito poderia auxiliar a trabalhar a pergunta sobre como viver em nossos tempos. Quem é o herói? E o monstro? E o labirinto, estará dentro de nós? Na pressa constante estaríamos entrando no labirinto sem perceber? Onde está o fio?

É preciso então encontrar nosso fio. Quem sabe começando pelos nós cegos? Para desatá-los e fazer bons laços. Ou então esticando o fio para exercitar a arte do equilíbrio. Talvez, na caminhada do viver, em nossa jornada de heróis, chegue um momento inevitável em que a vida exigirá um caminhar na corda bamba. Exigirá equilibristas que consigam realizar a travessia. 

Como viver? Pergunta filosófica, indagação que nos acompanha desde tempos imemoriais e que será sempre atual. Viver um dia de cada vez, nele encontrar encantamento, nele tecer sonhos, nele compor o real. Encontrar verdadeiramente o sentido da experiência de estarmos vivos. Escutando o ser em seu íntimo, saindo do labirinto,  utilizando nosso precioso fio para enlaçar a vida. 

(Artigo publicado no jornal O Povo, edição de 13/02/2012)






5 comentários:

Diego Almeida disse...

Ana, Seus textos sempre com muita transparência e delicadeza numa rima contínua que provoca uma serie de questionamentos e reflexões. Parabéns!

O que acontece é que são tantas as tarefas vários são objetivos pouco é o tempo, que nem damos conta do que é viver. Precisamos parar, para respirar, olhar, sentir, dialogar, respeitar a natureza, o ser humano a sua dignidade buscar sempre a felicidade, não a que é imposta a que da mais lucro e sim a que nos traz a sensação de espirito harmonioso. Isso é viver bem.

Carol Morais disse...

Talvez algo que atrase bastante a nossa vida seja o fato de pararmos e nos questionarmos tanto sobre a vida, confabulando e buscando sempre um modo de viver, uma fórmula pronta que nos ensine como a vida deve ser vivida. Eu nunca poderei responder à essa e a muitas outras questões, pois acredito e confio no limite da minha ignorância humana e na ignorância tipicamente humana de quem deve me ouvir confabular. No que acredito É que a vida é um mosaico de momentos e momentos que não podem ser medidos por segundos, minutos ou horas. Não há relógio que determine os momentos em nossa vida. Os dias só são dias porque dormimos e, mesmo assim, estamos vivendo. Mesmo no subconsciente há vida e há vida sendo vivida ali. Mistérios que não desvendamos porque somos limitados e limitamos nossos pensamentos e entendimento sobre o que é que nós fazemos no mundo que nos cerca.
Por isso, eu procuro viver e tento não mais buscar uma forma de se viver, pois já perdemos tempo demais com esses papeis e as obrigações que nos cercam. Se esse tempo não pode ser contato no relógio, que seja vivido sempre, até onde o seu coração dizer o que é o sempre para você.

huggo disse...

Se estivermos num labirinto, certamente procuramos um caminho, seja este nos recantos empoeirados da nossa mente ou nas veredas sombrias da existência. Que pena achar que não teremos um fio condutor, pois conduzimo-nos sempre em direção a algo, mesmo que este algo nos leve a lugar nenhum. Ou será que o tal fio esta escondido em nós? Esperando apenas por um olhar demorado e um coração aberto.
Nosso Deus, se eu não sair desse labirinto, morrerei no vazio. Morrerei em mim. Será que consigo? Ou será que sou o labirinto?
Ana, a sua poesia me inspirou a pensar, mas, pensar com o coração. Você é muito criativa!

Jany Cavalcante disse...

Realmente, belo texto e definiçao da vida.
Corremos, brigamos, acordamos sem ao menos saber oq eu iremos fazer...
Mas, temos que acordar..e viver um dia de cada vez..
parabéns, conheci seu blog através da Lucy, ex namorada do meu irmão, roberto, que já foi seu aluno.
PArabens..

Ana Valeska Maia disse...

Diego Carol, Huggo e Jany,
Os comentários de vocês floriram o dia.