Escrevi este texto para o jornal O Povo, publicado no dia de hoje. A inspiração foi o olhar para além das convenções, influenciado pela percepção de mundo da jornalista Regina Ribeiro, que realmente possui "o olhar". Quem quiser ler o artigo da Regina é só procurar na edição de sexta passada do jornal.
Gravei
na rotina o desejo de tomar conhecimento das notícias do mundo que chegam
tratando de tudo um pouco: focam nos preparativos da copa, no oferecimento de cursos
pelo governo, falam do caos urbano, da violência física e da violência simbólica,
greves, germinações e assassinatos, fome e desperdício, no absurdo episódio das
áreas de relevante interesse ecológico em confronto com as áreas de relevante
interesse do capital, shows, entretenimentos e, junto a tanto farfalhar de existências,
um texto que abriu caminhos de uma forma especial.
Na composição
dos afetos flui a melodia da vida. Mais
do que notícia, existe o real vivente em campos de forças. Caminho de cada um
que se constitui na arte do encontro. O texto
escrito pela Regina Ribeiro “O centro, o trigo e o joio” publicado nas páginas
do O Povo é tocante porque humano demais. No banal da vida também mora o
milagre da vida. Nas minúcias de todos
os dias. É o cultivar do olhar de quem percebe além do que está posto. O olhar
de quem não autoriza o cooptar da alma.
É tudo,
então, movimento? Gente que passa, dias que correm, trajetórias. Existem
pessoas que conduzem a vida seguindo pelo mesmo percurso, de casa para o
trabalho, do trabalho para casa. Existem os que não sabem para onde ir,
caminham errantes na confusão da multidão à espera do destino que resolva o que
não se consegue resolver. Existem os que seguem mundo afora, andarilhos corajosos
e aventureiros, sedentos de encontros. O interessante na travessia desses caminhantes
é que podemos estar a falar de uma mesma pessoa, ser humano que se reinventa, frágil,
forte.
Sabedor
das coisas, João Guimarães Rosa, em Grande
Sertão: Veredas disse o seguinte: “Mire veja: o mais importante e bonito,
do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas - mas que elas vão sempre
mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me
alegra, montão.”
Regina,
teu texto me alegrou. Trouxe visão nova e foi, sobretudo, um convite à
caminhada.
Um comentário:
Ana,
Quem muito me influencia a ter um olhar humano sobre a vida é também Adélia Prado. Acho lindo o trecho de um livro dela, que diz: "canteiro quadrado não, sem poesia". É isso. A poesia também enfeita nossos olhos. Nos recheia de humanidade. A poesia vem de Deus. E acredito verdadeiramente que é Nele que descobrimos a vida. Viver não é pra fora. É pra dentro. Precisamos nos voltar pra dentro de nós, pra dentro das coisas. Pra ver além.
Recebe o meu abraço.
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