segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Nas teias da justiça

A imagem é a de um protesto pela morte da juíza Patrícia Acioli. Crédito da foto: Paulo Alvadia / Agência Dia

De tantas forças que compõem o real, meu pensamento ficou conectado ao universo das máfias, milícias, tráfico de drogas e de influências. Evito transitar nesse território, prefiro falar das virtudes, da poesia, da arte. Mas este é um problema coletivo e não é possível fingir que este cenário dantesco não está aí, diante de nós e que sim, nós temos responsabilidade, precisamos pensar sobre as teias do poder, falar, agir, mudar o sentido das coisas. Por exemplo, o assassinato da juíza Patrícia Acioli. Fiquei chocada com este desfecho trágico, assim como sempre fico chocada diante da crueldade de justiceiros que assumem a solução de seus conflitos por seus próprios critérios. Semana passada um estudante da faculdade foi brutalmente espancado até a morte, pelo que fiquei sabendo, foi dívida de droga. No entanto, não posso dizer que sei, só escuto hipóteses, conversas à boca miúda. Não sei quem foi o assassino, assim como até hoje não sei quem mandou matar o líder comunitário e ambientalista José Maria do Tomé, morto há mais de um ano em Limoeiro do Norte. Parece que foi uma "pessoa poderosa", é o que dizem. Na região em que José Maria morreu, são utilizados agrotóxicos de maneira irresponsável, afetando a saúde dos moradores e dos futuros consumidores dos alimentos banhados pelo veneno. Diante do que se vê, cresce um desconforto pela sensação de impotência e um vislumbre de futuro de que os mandantes escaparão impunes. O fato é que ninguém merece morrer assim: executado, torturado, espancado. O fato é que situações similares acontecem aos montes. Esquemas, vícios, ameaças, mortes, impunidade. A justiça no Brasil explicita suas veias e as finanças ditam o lugar de cada um. Da corte ao cubículo. Quantos magistrados estão na corda bamba por agirem de acordo com suas funções e quantos poderosos, inclusive muitos operadores jurídicos estão comprometidos até o âmago com este trágico esquema criminoso que impõe medo e mordaça em uma democracia falaciosa? Com medo direitos e garantias escorrem por entre os dedos. “Porque, se a justiça desaparece, é coisa sem valor o fato de os homens viverem na Terra”, afirmou Kant.


Um comentário:

Anônimo disse...

A tendência humana pela violência, pela agressão, parece ter sido sempre uma válvula de escape de sua própria impotência, onde quer que ela se aplique, e de onde quer que venha. Eu acredito que emane de um mesmo lugar: o coração perdido, aflito, insatisfeito e ganancioso do homem. É assim desde que o mundo é mundo.
O que mudou (ou piorou) ao longo dos anos tem a ver com o tempo e aprendizagem (quanto mais eu faço, mais aprendo a fazer), com os “recursos”, a falsa modernidade, a destrutiva convivência tão próxima do mal e, conseqüentemente, a perda de sensibilidade para consigo mesmo, com o outro, com a natureza, que dirá, então, com o sobrenatural!
Não há justiça social, não há Direitos Humanos, não há e não haverá legislação, força ou poder no mundo capaz de alterar a cruel realidade de que somos vítimas, de longe ou de perto. Só transformando o caminho de cada ser humano – seus medos, frustrações, traumas, ansiedades, tristezas – o caminho do mundo, aos poucos, ficará menos sombrio, menos violento.
Obviamente, não podemos desistir. É preciso tentar, levar causas adiante, conscientizar pessoas, lutar bravamente para minimizar as oportunidades que facilitam a violência, o medo, o abuso, a morte. Cada um de nós procuramos fazer nossa parte e aproveitar a vida que é bela. como disse Jesus:

“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.joão 10:10

Edilberto Nobre