terça-feira, 26 de julho de 2011

Professor aprendiz

Ontem proferi uma palestra para um grupo de professores. Foi um momento especial. Compartilhamos vivências em sala de aula, conversamos sobre recursos para as aulas ficarem mais atrativas, com o estímulo à participação dos estudantes em aprendizagem ativa. Como sempre incluí a costura da poesia na fala, o poeta Gonzaguinha perguntando: “e a vida, e a vida o que é, diga lá meu irmão? Ela é a batida de um coração? Ela é uma doce ilusão?” e sinto forte na lembrança o que vivi. Lembro dos professores que se empenharam em explicar o que é a vida. Biológica, matemática, química, física, financeira, social, filosófica, poética. Esses professores compartilharam palavras, conceitos, fórmulas, métodos, mas quando volto às páginas de minha própria história o professor que costumo lembrar é aquele que possuía “um certo brilho no olhar”. É o professor que não se conformava apenas em administrar conteúdos, mas é firme no compromisso de contribuir com o encontro do estudante e seus próprios sentidos de vida. Piaget afirmava que o professor não ensina, ele encontra modos do conhecimento ser descoberto pelo estudante. Dizem também que a maior descoberta da vida é o encontro de si. “conhece-te a ti mesmo”. Alberto Caeiro anunciava o desejo de se despir do que aprendeu, raspar a tinta com que lhe pintaram os sentidos, desencaixotar as emoções verdadeiras, desenbrulhar-se.

O meu pulsar de coração pergunta, insistente e o que é, afinal, a vida? Para Rubem Alves o objetivo da educação é criar a alegria de pensar e Paulo Freire anuncia que não se pode falar de educação sem falar de amor. São autores que afirmam que os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor. Deveriam ser intérpretes de sonhos. É o poder de sonhar que nos humaniza, que faz com que reinventemos nossa própria história, é a força que nos faz acreditar que sempre é possível recomeçar. Toda realidade começa no sonho e todo começo também esconde um outro. Na escola da vida o professor tempo sempre ensina que precisamos de um outro que nos ajude a aprender a começar. Esse outro também somos nós, professores. Vamos compartilhando nossa trajetória de vida com a de nossos estudantes e perguntamos: O que é a vida, a educação, o sentido de estarmos aqui? Talvez seja para desaprendermos conceitos fechados e tecermos um diálogo aberto com a existência. Talvez seja para olhar novamente para a vida como uma criança e reconhecermos: sim, ela é bonita e é bonita, e dela sempre sou um eterno aprendiz.

Dedico esse texto à professora e amiga Carolina Morais.

7 comentários:

Carol Morais disse...

Ana, que escrito verdadeiro!! Estou emocionada. Emocionada e orgulhosa. Ser professor é uma das poucas profissões em que o ser é e não simplesmente "está". Nós somos professores e não estamos. Não dá para fugir nas ruas de alguém que foi nosso aluno. Seremos sempre chamadas "professoras". Mesmo se mudarmos de profissão seremos sempre professoras. É interessante como é algo que chega depois, mas nos transforma de um jeito que vira inerente ao nosso ser. Nós queremos que nossos alunos aprendam, e não queremos apenas ensinar. É isso que nos difere de tantas outras profissões: somos a base de todas elas.

Belíssimo, querida amiga Ana! ;*

Ítalo Lannes disse...

É admirável quando se pode contribuir diretamente para tornar alguém um ser humano melhor: mais sábio, mais questionador, mais altruísta, mais compreensivo ... enfim, porções e fragmentos de outros "mais", que são cuidadosamente compartilhados, contagiando os corações e as mentes, daqueles que aprendem assistindo e dos que aprendem ensinando. O senso de humanidade do professor, permite que uma simples aula não seja apenas uma exposição de conteúdos teóricos, mas uma exposição da teoria da vida. Mais do que pensar, o professor nos ensina a sonhar. Sonho esses, que produzem em nossos corações a esperança necessária para lutarmos por nossas mais sublimes aspirações. Uma ótima semana Ana!

Ana Valeska Maia disse...

Bjão gente!

Anônimo disse...

Na vida somos sempre aprendizes, que bom que escolheste o caminho do amor para compartilhar.

Andreia Marreiro disse...

Ana, foi inevitável ler seu texto e não lembrar de Luis Alberto, o vivíssimo Warat!

Ana Valeska Maia disse...

Ah, Andreia, sinto muita falta do Warat. Ele mora em meu coração. Bjs.

Unknown disse...

Adorei o texto, Ana Valeska. A educação ficou, ali, paradinha no paradigma da revolução industrial. A revolução do conhecimento chegou e a educação parecia faltar. Agora não. Vemos uma nova onda sensível de mudanças que sugere um relacionamento dialógico com construções efetivas em verdadeiro processo colaborativo. O professor vira guia. E os alunos são os exploradores. Abraços.