terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Chuva e Chopin

Quando eu estudava música tive pressa em conseguir a partitura para tocar “Tristesse”, de Chopin. Desde ontem escuto as notas de Tristesse em pensamentos, provavelmente por conta da chuva que ainda cai insistente e imperativa. Relembro as aulas de música que tive na década de noventa com a professora Inês. Meu piano alemão antigo, nascido nos fins do século XIX, com castiçais dourados e teclas amareladas pelo tempo, repousa em minha sala de estar, num silêncio real e incômodo. O som da chuva aumenta e afasta as notas de Chopin. Rapidamente as notas retornam, os sons da música se mesclam com as gotas do céu em um quase delírio. Chuva e Chopin deságuam oceanos na memória e eu recordo de quando fui rainha das ondas do mar. Sentada na areia, criança de uns nove anos, eu orquestrava o ritmo das ondas, que se encaixavam perfeitamente com a música de meus pensamentos. Ah, eu tinha um grande poder! Eu e todas as crianças. Quando somos adultos esquecemos o quanto somos poderosos, apagamos as linhas que nos transportam para a liberdade e nos enfurnamos em prisões. Creio que de vez em quando é preciso retornar e viver novamente um grande poder. Poderosos como as crianças que um dia fomos.


14 comentários:

Juliana Duarte disse...

Divino! Tristesse, Chopin, o piano, você! Volta a tocar, Aninha! Lembrei de uma poesia que fiz pra você há uns dois ou três anos atrás. Lembra? Vou procurar pra mandá-la a você.

Muniz FiLho disse...

Que interessante minha queriiiida professora, me fez lembrar da minha infância no Morro Branco, nos dias de sol e nos dias de chuva que eu brincava com meus primos e primas.

-Muniz Filho

Rosana disse...

Bravo!

Ana Valeska Maia disse...

Lembro sim Ju! Coisa mais linda a poesia!

Valeu Muniz.

Bjão Rosana.

Franzé Oliveira disse...

A liberdade é uma palavra.
Ser livre é uma ação.
As músicas nos lembram ações vividas e ainda por vir.
Liberdade é uma canção...

Ana Valeska Maia disse...

Franzé, você apareceu! Estava com saudades.
Bjs.

Elaine Sá disse...

Perfeito!É impressionante como algumas músicas são capazes de nos transportar para lugares tão distantes...A infância é realmente um momento único em que acreditamos ser capazes de tudo.Vivemos em nosso mundo isolado,onde nada é capaz de nos atingir.Inventamos histórias,heróis e sonhamos em um dia crescer para sermos independentes...E quando finalmente crescemos deixamos para trás a magia de ser criança e passamos a sentir um vazio,como se uma parte de nós tivesse sido perdida.Dai a importância de sempre buscarmos essa criança perdida,essas lembranças que acabamos por deixar perdidas em algum lugar de nossa mente...Ana como sempre uma fofa nos compartilhando um pouco de sua história.Adoro muito essa flor!Bjos e até segunda!!

Ana Valeska Maia disse...

Ah, Elaine, você é muito linda!!!
Saudade, viu? Ainda bem que segunda está chegando.

celeal disse...

A criança que existe em cada um de nós deve ser revitalizada a cada dia e a arte é uma ótima forma de fazer e expressar peraltices (artes) com as ideias, os pensamentos e o coração.
abraços
Ps: Quando criança estudei flauta doce e, depois, violoncelo. Hoje escuto Rostropovich ou Yo Yo Ma, tocando Bach e me transporto para a minha infância...

Ana Valeska Maia disse...

Olá Carlos!
Adoro ser uma artista-criança.
Bjs.

Anônimo disse...

Que texto MA-RA-VI-LHO-SO!Que palavras encantadoras,sabe que lendo esse texto me deu uma sensação de nostalgia, que saudades dos meus tempos de criança... Adooooooro seus textos!
um beijo, Camila Fonteles

Steven Douglas disse...

Ana, seu cantinho aqui na net continua maravilhoso como sempre. As misturas reinam e ganham vida nas linhas do seu texto, levando o leitor a uma prazerosa e reveladora viagem. Quanto ao alemão antigo de teclas amareladas.. o silêncio é algo mágico, mas quando incomoda deve ser quebrado.

Beijo.

Honório Teixeira Melo Neto disse...

Fantástica escrita, a musicas as outras artes turbinam a nossa sensibilidade, Ana é arte.

"Chuva e Chopin", propociona flach back,quando criança, os sonhos são os melhores, a vida é protegida por camadas de alegria. quando adultos deixamos de lado esse encanto, ficamos míopes ou até mesmo cegos diante do poder que temos.

Beijos Ana.

Anônimo disse...

gosto dessa música, aninha, e nesse momento, ela, o título dela, representam o que estou sentindo nesse momento.
precisando de carinho, eu