domingo, 7 de novembro de 2010

Matéria no Diário de ontem

Bordadeiras de palavras

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As ilustrações da artista visual Maíra Ortins compõem o livro "Tessituras". As obras escolhidas para o livro estarão expostas hoje, no Iate Clube, durante o lançamento

6/11/2010

Acontece hoje, no Iate Clube de Fortaleza, o lançamento do livro "Tessituras", um intercâmbio poético entre literatura e artes visuais

Pode parecer desfeita à primeira obra de Maíra Ortins no livro, mas não. É só que, a despeito dela, essa compilação de contos, crônicas e pinturas não são de sujeitos como esse aí debaixo, mergulhado solitário num oceano idem. "Tessituras", de Ana Valeska, Márcia Sucupira e Maíra Ortins, é, em um princípio óbvio, um livro a três. E, para além disso, uma costura de afetos. Aliás, não é daquelas bem acabadas: é daquelas com uma variedade de pontas de linha, indicando o caráter de obra inacabada, espaço de sobra para quem quiser chegar e, das pontas, dar seu nó e se juntar às três. Foi um tanto isso que fez a escritora e antropóloga Glória Diógenes, que, se achegando, escreveu a apresentação. Segundo Glória, tessitura é como a reunião de notas musicais para formar canção. "Não é sol, nem lá, nem si, é solasí", explica a também poeta.

Estéticas

As crônicas, contos e poesias de Ana Valeska e de Márcia Sucupira se complementam: Valeska é mais poética e suave. Em textos mais breves do que os de Márcia, retrata o amor e o tempo, preocupa-se com a rapidez leviana com que o presente vira passado. "Viu? Passou".

Em Ana, está o amor escancarado e passagens da vida em poesia, reproduzidos em uma linguagem aproximada a dos blogs pessoais, que servem aos escritores como verdadeiros diários. Valeska é quem clama pelos afetos, quem faz crer nas palavras de uma balada de Zeca Baleiro que diz "entre os automóveis, mesmo o mais sozinho nunca fica só".

Já Márcia é densa, de uma razão descritiva e às vezes irônica. A moça é uma "despensadora", como se define. Dela provêm as inferências sobre o cotidiano linha-de-produção e a defesa à liberdade gostosa de mudar de ideias, porque "tem o dólar, o horário da van, o ponto, os cardápios e os Ministros. Esses, ninguém muda".

Enlinhar textos assim distintos é a missão da artista plástica Maíra Ortins. E as imagens funcionam decerto como espaços em latência, pontos de transgressão presos a tênues laços de cadarço, dando significação às palavras de Ana Valeska: "A vida é um ´entre´". A aquarela avermelhada vai abrindo comportas ao longo das páginas.

"Já produzíamos esses textos há algum tempo. Eu possuo um blog há uns dois anos, já Márcia nunca pensou em colocar seus escritos na internet. O livro é uma forma de reunir essas produções tão pouco reveladas", comenta Ana Valeska. Segundo ela, as amigas acompanharam de perto o processo de feitura do livro, mais um motivo para reciclar os laços de amizade. Juntas, escolheram cuidadosamente textos e imagens e releram confissões escondidas, seja no canto da gaveta, seja nas postagens mais antigas do blog.

Ao longo das páginas pólem de "Tessituras", percebem-se fácil pedidos de novo fôlego aos afetos. E se for verdade o que disse Ana, que "o bom da busca é a vez do encontro", então esta obra é um desses bons momentos. Hoje, durante o lançamento, Glória Diógenes abre o evento apresentando o livro, e Maíra expõe as obras selecionadas para a compilação.

Literatura e Imagens

Tessituras Ana Valeska Maia, Márcia Sucupira e Maíra Ortins

Expressão gráfica - 2010

94 páginas

R$ 30

O lançamento acontece hoje, a partir das 17 horas, no Iate Clube de Fortaleza (Av. Abolição, 4813, Mucuripe). O evento contará com instalações de Maíra Ortins, além do tradicional pôr-do-sol com jazz. A entrada é gratuita e o livro estará à venda no local.


MAYARA DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA O CADERNO 3

2 comentários:

Corpo meu, minha morada! disse...

"Em Ana, está o amor escancarado e passagens da vida em poesia"
EU CONCORDO!

Amo você, amo sua poesia!

Laís

Ana Valeska Maia disse...

Lalá, você é um jardim pra mim.
bjs.