segunda-feira, 5 de abril de 2010

Devaneando

Dia de inquietude e procuro abrir espaços de silêncio entre o domínio dos ruídos, dos apelos hipócritas e insistentes em fazer introjetar consensos em meu espírito. Vivemos a catar o problema crucial de nossa época e a pergunta fundamental (o que fazer?) ecoa imensa. A verdade é que somos o próprio caos. As ciências do Homem progridem e agridem à cata das respostas e das melhores estratégias para fazer proliferar os jogos de dominação. Mergulhamos no mundo da biologia molecular, da genética, da física quântica, saltitamos com a descoberta do elo perdido entre física, química e biologia como se pudéssemos explicar tudo em uma fórmula precisa e expressa, ideal para caber na prateleira do consumo ou na caixinha do remédio de pílulas azuis. O mundo escrito em caracteres matemáticos, como dizia Galileu. Mesmo com os êxitos da ciência que ainda não tem ciência de si, o mistério persiste. Justamente porque o código do mistério é, ainda, indecifrável e talvez seja este seu destino. Se um sistema se auto-regula, vivendo a própria criação ininterrupta de si, se as somas de todas as partes recriam o todo a todo instante, e o instante pode até ser captado, registrado, fotografado, documentado, mas o fato é que nunca mais será, nunca mais, e o que temos é somente o momento presente, o agora, este instante, este momento, este pulsar de coração, esta capacidade de amar, agora, neste caos em um cosmos chamado gente, presa e solta dentro de mim, a vida.

3 comentários:

Franzé Oliveira disse...

A natureza humana. Acredita que temos?
Somos designados por moléculas a ser o que somos, acredita?
Eu acredito.
Não acredito na criação, sei que acredita. É natural ao ser humano.
A vida é um mistério.
Mas um mistério físico, químico e principalmente biológico. Um verdadeiro milagre, entende? Acho que não.
Também tenho devaneio.

Beijos menina linda.

Anônimo disse...

Como diria Edgar Morin, (Jo)Ana, somos "caosmos"; organização e desorganização numa síntese (im)possível a nos mover - contraditoriamente - nesse mundo, nessa vida (que é puro mistério). Também me vejo, como você, por vezes, devaneando, me (nos) questionando enquanto indivíduo e enquanto espécie e me sinto tocado, como sempre, pela sua escrita inteligente e sensível.
Bj grande nesse coração imenso e amoroso.
Jô.

Ana Valeska Maia disse...

Grata pelo carinho de vocês.
Bj grande também nesse coração imenso...