domingo, 7 de março de 2010

As areias do tempo

Às vezes o tempo muda de velocidade e até esqueço que estamos em 2010, que os ponteiros dos relógios são eficientes e céleres em seu ofício de contar a passagem dos minutos que se esvaem. Vivemos presos observando o gotejar de torneira defeituosa do tempo humano demais que nos marca. Virei a ampulheta para ver a areia deslizar marcando outro tempo e assim escapo do sistema e chego ao coração da Terra. Todos têm um destino a realizar, uma tarefa maior a cumprir, um insight gigantesco para perceber, uma faixa de chegada a nos aguardar em algum lugar que é só nosso. O caminho de todos é o caminho de um, é o teu caminho. Viajante do tempo como agora estou, vejo tua persona descascar, a máscara cair e eis que surge teu sorriso farto e solto de criança! Neste momento, de encontro real, tu percebeste o mundo de ilusões em que te apoiaste e quais são, efetivamente, teus monstros, medos, sombras e inimigos. Defender-se de quê? Para quê personagens e armaduras? Não adianta colocar um tampão, lançar a dor no fundo do saco e guardá-la nos porões do inconsciente. Um dia a pressão aumenta e a explosão acontece. Aconteceu e tu estás preso no labirinto. Este não é você, é o outro que é o verdadeiro, aquele que ninguém vê. O ego é o carcereiro. Estás acorrentado às expectativas da sociedade, aos modelos e padrões de felicidade, quando ser feliz é profundamente íntimo e único, não tem receita pronta. Se quiseres sair do labirinto comece perguntando sobre o óbvio. Quem é você? Quem sou eu? É uma pergunta que devemos fazer todos os dias. Já que você não é aquela imagem computadorizada, nem o eu da carteira de identidade , nem os números do CPF para que te tributem o trabalho e te imponham uma rotina para melhor exercer o controle de teus desejos. Você é além. Você é o que se esconde. Onde está tua consciência? Qual o mistério das palavras, do vento, da terra, do ar, das lágrimas, do sentimento? A mente costuma mentir com seus fantasmas, mas teu coração é verdadeiro e guarda um segredo que é você no mais secreto de ti.

6 comentários:

Franzé Oliveira disse...

Bom texto.
Quem somos?
De onde viemos?
Para onde vamos?
Perguntas a serem respondidas...

Amanhã seu dia, mulher linda.
Minha homenagem utilizarei esse soneto "by" Vinicius de Moraes:

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Parabéns. Beijos com carinho.

Marina disse...

li e amei esse post! vc realmente tem movimento nas palavras. E é claro que eu já estou te seguindo.

Daniel Simões disse...

Um dos principais objetivos da Novus Ordum Seclorum (Nova Ordem Mundial) é inibir em cada criança, jovem e adulto a capacidade única que temos em questionar nossa existência.
Diziam-me:
"- O sentido da vida?!!! Deixa-te de sonhos: vai mas é arranjar uma mulher, casar, ter filhos, um trabalho das 9:00 às 5:00, um cachorro, um piriquito e passear com a família ao fim-de-semana."
Eu não aceitei a sugestão e fui em busca da Preciosidade!
Encontrei o que não devia nos locais errados, dei longas voltas para chegar onde hoje estou, algo machucado, mas sem jamais ter desistido de procurar o sentido da vida.
Coisa maravilhosa: quanto mais me aproximo da compreensão deste Tesouro, mais a Saúde se vai apresentando
e o que em minha pessoa aqui chegou machucado, tem vindo a curar-se, pouco a pouco, à velocidade que Deus quer e que eu deixo.
"- É preciso querer!" - já dizia o Grande Mestre.

LPA

Anônimo disse...

Quem somos nós, (jo)Ana?
(talvez seja este um dos maiores mistérios que nos atravessam e para o qual nem sempre temos a resposta).
Suspeito que sou/somos a soma de desejos e sentimentos, medos e circunstâncias, acertos e autoenganos, conceitos e preconceitos.
Um amálgama - nem sempre coerente, mais das vezes, contraditório - de uma carga genética ancestral: o nosso lado animal, a nossa natureza "natural" de instintos e impulsos(talvez nosso verdadeiro hardware) com softwares programados pela educação, pela cultura, pela ideologia, pelas religiões, que nos infundem valores, idéias e representações.
Razão e sensibilidade que nem sempre se encontram ("ai, meu coração que não entende o compasso do meu pensamento...").
Sentimentos que se mesclam e se (nos) dividem.
Assim somos.
Feitos dessa matéria humana que nos torna, a um só tempo, demens e sapiens. Devos e diabolos.
É assim que me sinto, minha querida. É assim que sinto.
É assim que me encontro e me perco.
É assim que estou nessa vida e vivo (convivo) com todas essas idéias, sentimentos, contradições, medos e desejos ("nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e sons...")
É assim que sofro. É assim que busco a felicidade. É assim que sou.
Bj grande e amoroso deste blogólatra sempre fiel,

Ana Cristina Mendes disse...

Nós viajantes... em busca de nós mesmas.
Muitas saudades de nossas viagens, conversas, trocas preciosas.
Por onde elas andam? será que estão com menininhas de mãos dadas?

um beijo da tua amiga-ana-irmã

Ana Valeska Maia disse...

Um abraço caloroso para vocês tod@s amigos queridos.