segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Te amo, coração.




O coração é como a árvore – onde quiser volta a nascer.

(adaptação de um provérbio moçambicano, retirado do livro O fio das missangas, de Mia Couto)


De julgamentos o mundo está cheio e todos têm suas razões. Disso não quero mais saber. Já fui juíza e quanto mais julgava mais prisioneira era de minhas próprias sentenças. Nem delegada sou para prender alguém.

Tenho apenas uma causa que fundamenta meus dias: a causa do coração.

É dele que brotam minhas raízes.

Na casa da minha vida tinha o hábito de mergulhar na infância e meus pés estavam sempre passando pelo rio que flui.

Este rio é o tempo.

O olhar mergulha nas águas do rio.

No mergulho encontro as lembranças.

As lembranças são sempre úmidas. Gotas do céu, do mar, da face.

Banhada pelas lembranças, bordo memórias.

Tecelã de ofício, bebo das águas da lembrança em pequenos goles, juntando os pontos fio por fio, costurando rendas, rendilhados, arremates e nós cegos.

Vejo lágrimas vertidas e sorrisos retidos.

Vivo sorrisos vertidos e lágrimas esquecidas.

Mergulhado na memória sinto que meu agora é ar.

As lágrimas flutuaram, desapegadas de mim.

Com você sorrio.

Fluida e intensa como o rio que corre para te encontrar.

Tenho asas invisíveis.

Flutuo.

Te amo, coração.


imagem: still da vídeoinstalação The House (2002), da artista Eija-Liisa Ahtila


7 comentários:

Andréa Beheregaray disse...

Óh que lindo!
estou, faz tempo, pra comentar o fato da tua mãe ser poeta. Pensei logo, claro! Toda filha de poeta tem cheirinho de flor, feito vc.
Bjs querida.

Ana Valeska Maia disse...

Andrea, teu comentário é um aconchego!
Se você estivesse mais próxima de mim corria agora pra te abraçar.
Bjs.

Unknown disse...

Sem palavras.
Pois são belas as suas.
Bom é escutá~las, viu?

Bjos menina doce.

Ana Valeska Maia disse...

Bjs Franzé!
Grata!

Anônimo disse...

Para esse coração apaixonante e amorável, respondo, também, com Mia Couto:
"É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou"
Bj. grande,

Ana Valeska Maia disse...

Õ poema lindo!
lindo como você!

Unknown disse...

O ser se movimenta fosforecentemente iluminado pela canção criativa do afeto.
Em sua fluidez ilumina o instante com a beleza do que porventura sente e assim nos revela.
Foi assim a experiência desta manhã
suave como a beleza da luz do sol.