terça-feira, 24 de novembro de 2009

Algo além de mim


Ontem amanheci ouvindo Legião Urbana, especificamente a música Tempo perdido: todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou...

A música lançou meus pensamentos para o reino da introspecção. Esse tempo que passa, fica e vive em mim. Tenho-o na memória. Sou guardiã do tempo. Sou viajante do tempo. E foi assim que diante de mim apareceu uma porta. Como tenho a chave que abre todas as portas resolvi enfrentar a incerteza do que há de vir, girei a maçaneta e entrei no território desconhecido. Após caminhar um pouco atravessando a penumbra de um corredor estreito, encontrei uma mulher sentada a tecer reflexões. Seu manto de reflexões narrava histórias que pareciam caminhar para algum lugar infinito. Perguntei quem ela é e fiquei sabendo que estava diante de uma deusa: Mnemosyne, conhecida como a mãe das Musas, protetoras das artes e da história.

Confesso que não foi fácil quando me dei conta que estava conversando com a deusa Memória. E se ela resolver puxar alguma lembrança que eu não quero recordar? Não teve jeito, tive que encarar a situação. Vi que a tessitura da memória pode ter voz de saudade, pode ser alegria esbanjando entusiasmo, coração acelerado pelo encontro único no mundo, pode ser certeza de amor verdadeiro que o tempo não leva, pode vir como saudade turca, conhecida como “descarinho” e doer como punhal frio mutilando o coração. Na memória cabem todas as dores e amores, fatos, acontecimentos, encontros e rupturas, todos os passos construtores do eu. Vi que o tempo é amigo da memória, que ajuda a arrefecer as lembranças dolorosas e que traz frescor, sopro de vida nova para o que foi bom e é revivido. Pelo caminho da memória viajo no tempo, para além da vida que conscientemente vivo. Pela memória eu sou eu, mas percebo que em minha memória existe algo além de mim. Esse algo é um mistério, um enigma que aos poucos me revela que eu sou imortal.

Quando dei por mim estava em casa, com a janela aberta, contemplando a lua crescente. Estranhamente a Lua conversava comigo e eu fiquei feliz por viver em estado de poesia.


Imagem: obra de Ismael Nery.

7 comentários:

Franzé Oliveira disse...

Um texto lírico que parece uma poesia. Na verdade é sim uma linda poesia.

Bjos doce menina.

Ana Valeska Maia disse...

Bjs Franzé, grata pela visita.

Anônimo disse...

Só pra dizer de como me encanto - cada vez mais - quando visito esse belo blog, desse belo seremmovimento que é você, bela artesã das palavras, (jo)Ana.
Beijo grande,

Ed Rodrigues disse...

Ah, Ana...
tempo de simples palavras de Renato, que decifra novos enigmas...
"não tenho mais o tempo que passou..."
é...não se pode comprá-lo, financiá-lo ou alugá-lo...
Nem mesmo economizá-lo posso eu...
Somente resta-me aprender a arte do tecelão, que nos emaranhados das linhas, tece e anoitece a vida, cobrindo, descobrindo pensamentos no salão da memória e, atirando-os ao relento, no achado tempo perdido do tempo...

Anônimo disse...

Bravo Ana!

Eu também me encantei com o texto e estranho seria se isso não tivesse acontecido, depois fiquei pensando acerca do assunto, acho até que tbm cheguei a conversar com a lua é que gosto muito de legião urbana e confesso que essa música é bem especial para mim, justamente por falar de "um dos deuses mais lindos": esse tempo que por vezes me afaga e por tantas outras me afoga; esse tempo fugaz, que ainda assim, fica em algum lugar de nós; esse tempo que nos dá e nos tira sem nos pedir permissão.

O tempo transforma nossas vidas e nos ajuda a escrever o enredo de nossa história, como diria Caetano ele é: "um compositor de destinos", por isso devemos VALORIZÁ-LO agora e sempre afinal: "não temos tempo a perder."

Beijos e Boa sorte!!!

Ana Valeska Maia disse...

Bjs para vocês queridos e sensíveis, por tanto, belos.
Ed, seja sempre bem vindo!

Ed Rodrigues disse...

NO projeto FANOR, conte comigo.
Mudar o mundo através da nossa mudança é um de meus objetivos...