sábado, 24 de outubro de 2009

O combate: a bela e a fera

Segui cega e surda. Abandonei as vestes dos conceitos civilizados acerca de quem eu sou e entrei na floresta como bicho entregue à linguagem dos instintos. A floresta é o meu subterrâneo. Nela encontro a caverna, a árvore e o rio. Na procura incessante do que eu sou, do que eu fui, vou tecendo a tapeçaria de minha vida, artesã incansável em meu ofício, unindo os fios, os símbolos e as cores que compõem a trama imbricada do sentido de minha existência. Faço isso para poder continuar o caminho. Para continuar o movimento predestinado, para cumprir dignamente meu destino traçado. Então é preciso, de vez em quando, combater, para vencer a parte civilizada, a bela domesticada que me faz cega e surda de mim.
Venço o que é humano e continuo como bicho. Somente um bicho prossegue diante da ameaça da penumbra de uma floresta desconhecida. É como bicho que reconstruo as bases de meu corpo arcaico e reencontro a primeira consciência, essencial, base e fundamento da verdade e que vive na animalidade do humano que escapou de ser domesticado. No vibrar da carne crua da consciência do corpo selvagem, o místico pulsa, novamente, em seu estado natural. Falo da alma humana já encarnada e ainda virgem de abismos e acúmulos. Agora corro com os lobos. Na vivência dessa memória ancestral me reconheço. Sou a fera indomável, a fêmea selvagem. Farejo a terra e sigo a luz da intuição. Enxergo além do imaginável, meus ouvidos estão atentos a qualquer farfalhar de folhagens ou bater de asas. Meu corpo fala altivo e avisa à intenção do predador: sou fera e a força está comigo.

4 comentários:

Franzé Oliveira disse...

Segue seus próprios passos. Ser livre é sério. O acaso é que nos guia e sorte na vida é o que queremos trilhando nossos caminhos. Ser feliz é simples. É só da um passo. É se aceitar. Não há nada no mundo como uma onda batendo nas pedras. Não há nada mais belo que o brilho da lua. Simples, né?

Bjos com ternura menina linda.

Ana Valeska Maia disse...

Bjs Franzé e grata pela visita.

Anônimo disse...

> O uivo da mulher selvagem, do profundo de suas entranhas. Coisa mais linda e poética uma mulher que desperta pra sua própria liberdade de ser... Parabéns pelo texto, lekamada. Bom te ler. :-)
> Ricardo Kelmer
blogdokelmer.wordpress.com

Ana Valeska Maia disse...

Ai Ricardo, sinto tanta saudade de ti!
Beijos da tua Leka.