terça-feira, 22 de setembro de 2009

O discurso do meio ambiente

Desconfio dos discursos e creio nas ações. Portanto, é com desconforto que analiso os discursos dos presidenciáveis Ciro Gomes, Dilma Rousseff e Aécio Neves com relação ao meio ambiente. É forçado, mascarado, sem base. Interessante que após o anúncio da possível candidatura de Marina Silva houve uma fala ecológica agregada ao que antes era tingido com as cores desenvolvimentistas e mercadológicas. E, lembrando Gramsci, quando um discurso é institucionalizado pelo Estado capitalista, a quem servirá? A quem estamos servindo?
Susan Sontag e José Saramago afirmaram que mesmo com toda a sofisticação tecnológica permanecemos ainda na caverna de Platão, imersos em um mundo de aparências, transformando sombras em fundamentos para criar realidades.
Existe uma questão profunda a ser tratada nessa problemática. Se, na realidade, tudo é tecido junto, (teoria da complexidade) como uma relação harmônica entre os seres humanos e o meio ambiente poderá ser construída sem uma relação harmônica dos seres humanos entre si?
Ainda somos contaminados com a herança do paradigma cartesiano, fragmentário, dividido, dicotomizado. Foi introjetado em nosso processo de educação uma visão antropocêntrica de mundo, excluindo o homem da natureza, destacando-o como um “eu” superior, para que seja possível dominar, explorar, destruir, corroborando com a visão de “progresso”, com a condução desenvolvimentista, enfim, capitalista.
Precisamos de ações, sentimentos e pensamentos mais coerentes e comprometidos realmente com a perspectiva ecológica (re-significando nossa relação com o mundo), que não deve ser sabotada por um discurso ecológico farsante e oportunista. Infelizmente, ontem, dia 21, que trouxe o simbolismo da comemoração do dia da árvore, flagramos ações de eliminação de árvores pela cidade, amparadas pelo poder público. “Em nome do desenvolvimento, destruam”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto, Ana.
Bela e oportuna reflexão.
Adoro o blog e sua diversidade. Adoro os textos poéticos, os artísticos, os ecológicos. Adoro.
Bj. grande,
Jo.

P.S.: quero avisar a todos os blogólatras que a Marina (Silva)fará uma palestra no auditório da FA7, às 7 e meia da noite, dessa quinta, dia 24.
J.

Fernando Bacelar disse...

É uma questão delicada, tia Val. Como engenheiro, já li, ou pelo menos ouvi falar, sobre diversos processos construtivos "ecológicos", "verdes", "ecologicamente corretos", etc. Iniciativas louváveis, sendo muito sincero, mas a gigantesca maioria ainda dentro de uma esfera... digamos... romântica. Digo romântica pois ainda estão longe da viabilidade econômica.
O que entendo como grande desafio e como a maneira mais coerente, mais factível, de mudar esse panorama de "homem predador", é tornar iniciativas "verdes" financeiramente interessantes.
Não acredito que o homem destrua pelo prazer de destruir (por homem, entendam-se os que detêm o poder econômico). Eles simplesmente não ligam... o que chama a atenção deles é a rentabilidade. E aí volto ao termo "visão romântica". Acreditar que é possível, a curto ou médio prazo, mudar a maneira de explorar os recursos naturais apelando para a boa vontade, ou até bom senso dos "poderosos", é puro romance.
O caminho é, sim, e como já foi dito, o enorme desafio, tornar as soluções financeiramente viáveis, seja por retorno direto ou indireto (marketing, por exemplo).
Infelizmente, me tornei um descrente em relação ao uso do bom senso... acredito mais no poder de convencimento, atacando os pontos de interesse.
Se o mundo é movido à interesses, pelo menos que os usemos de maneira inteligente.

Franzé Oliveira disse...

O meio ambiente tem que ser preservado. A vida tem quer ser preservada. Nada de apar~encias e sim de ações concretas. Mas será quem passa fome vai ser consciente em preservar o ambiente? Há mais complexiadade nas questões socias e ambientalistas do que sonha nossa vã filosofia.

bjos com carinho.