terça-feira, 4 de agosto de 2009

O desafio da complexidade na sala de aula

Senti que as aulas começaram realmente ontem. A sala estava LOTADA. Não é fácil administrar a harmonia em uma sala de aula lotada. Além disso, o tema inicial da disciplina de Ciências Humanas e Sociais era um tanto árduo para quem nunca refletiu sobre ele: pensamento complexo.

Sei que não é fácil colocar um questionamento mais incisivo sobre nossos padrões de pensamento, afinal nós estamos acostumados com eles, é familiar, é cômodo!!! Fiquei falando um tempão sobre como a herança cartesiana nos tributou um modo específico para pensar e incentiva em nós uma visão passiva do mundo, esperando receitas prontas. Queremos respostas definitivas. Isso é cômodo, aparentemente facilita nossa vida, mas é importante atentar: também nos limita. Instiguei os integrantes da turma:
- Queremos limitar nosso processo de conhecimento ou queremos abrir novas possibilidades de sentido, desafios e motivações para o nosso pensar?

Argumentei que nesse sentido, a complexidade trata justamente daquilo que o pensamento mutilante não alcança. Edgar Morin alerta que, “se tentamos pensar no fato de que somos seres ao mesmo tempo físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que a complexidade é aquilo que tenta conceber a articulação, a identidade e a diferença de todos esses aspectos, enquanto o pensamento simplificante separa esses diferentes aspectos, ou unifica-os por uma redução mutilante.”
Que tal dar uma chance para pensar relacionalmente? Ter uma percepção de si e do mundo mais integradora?
Ontem, no final da aula, um aluno questionou se minhas aulas seriam “sempre daquele jeito”, pois ele não tinha “entendido nada”. Imediatamente pensei: lógico que não! Em seu questionamento, ele buscava respostas conclusivas no final da aula, queria levar conceitos prontos. Expliquei para ele que essa é a herança cartesiana, coloca a realidade numa fôrma, que o pensamento complexo sugere um método mais abrangente de leitura de mundo e que ele, instigado pelos questionamentos na sala de aula, poderia refletir melhor sobre seu próprio mundo e por esse percurso criar sentidos, perceber novos horizontes.

Pelo semblante, não gostou da minha resposta. Vamos ver o que acontece durante o semestre.
Afinal o próprio Morin reconhece que pensar a complexidade é um desafio.

Abraços a todos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Belo e instigante, texto, (jo)Ana.
Levar Morin para @s alun@s; provocá-l@s, no bom sentido da palavra, à complexidade; sair do lugar-comum; fazer da sala um espaço de debate, aberto, livre, também me desafia, como mestre. O desafio maior seria levá-l@s a esse pensamento, a partir mesmo de suas (deles) dúvidas, dialogando com suas dúvidas, tirando-@s da zona de conforto, vencendo a resistência com tenacidade, amor e paciência. Mas, estou - sempre, sempre - na torcida (e me inspirando também em você, para pensar, ensinar, aprender e apreender a complexidade).
bj. nesse coração marinho,
Jo.

Fulvio Ribeiro disse...

Olá tudo bem com você..???
faz tempo que não passo aqui, percebi que só perdi.
E sobre o post, é de suas aulas que precisamos, sucesso e Paz.
Abraços.

Ana Valeska Maia disse...

Grata pelos comentários meus amigos.
Saudade, Jo.
Fulvio, vou te visitar também.

gloria disse...

Valeska, as vias do pensamento complexo tangenciam e se afastam dos caminhos do "pensamento prático". Vivemos um tempo de resultados, da velocidade de respostas. O pensamento complexo se tece no silêncio, em linhas que muitas vezes permanecem invisíveis. Ele não tem pressa em enunciar descobertas, finalidades, pontos de chegada. O pensamento complexo guarda intimidade com o tempo.Ouvir um certo som do silêncio, saber ler pequenas pistas, olhar para além das manchetes, saber que mais terras compõe a mesma paisagem, entender queo corpo vai mais além de suas bordas.E que tudo isso é mais científico do que a ciência que prova, comprova e calcula. É mais sábio.
Eita como tudo isso leva tempo e dói!
Eu já estive tanto diante dessa mesma situação! E continuo!

Tão belo o que vc. escreveu para mim; como um filete de comunicação que vai até a derme e se espalha por todo o resto.

bjs no cantinho do coração, aquele em que canta o sabiá.

Vanessa Bastos disse...

Olá Ana, confesso que adorei seu ponto de vista sobre o desafio da complexidade, ao ler eu pude entender melhor tudo isso. Abraço