quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Em cumplicidade com a Lua


Ontem caminhava em direção à entrada da Fanor, a aula em breve começaria. Vi a lua imensa e sorri satisfeita: “entramos na fase da Lua Cheia!”.


A Lua estava linda, poderosa, clareando a noite.


Os estudantes passavam por mim apressados, como de vez em quando parece passar o tempo que eu quero agarrar, como o tempo daquele momento em cumplicidade com a Lua. Ninguém parecia perceber a presença da Lua iluminando nossas histórias. Sempre me surpreendo porque as pessoas não prestam atenção em como é bonito olhar para o alto, ver o movimento constante da vida. Ver o sol dissolver as sombras da noite, sentir o poder do sol aquecendo o dia, ver as cores únicas aquarelando o céu de turquesa, laranja e rosa quando o astro-rei se despede para iluminar outros cantos do mundo. Também ver as luzes da noite, a Lua, as estrelas. Vi a Lua atravessando signos, percorrendo planetas, alterando humores, percepções, como é magnética a Lua! eleva o nível das águas, o tempo muda, nascem mais bebês na Lua Cheia.
Como a aula da disciplina Teoria Geral do Direito trata, na grade curricular da Fanor, da História do Direito, como aula inaugural falarei sobre o Direito nas sociedades ancestrais. Vendo a Lua Cheia como estava, foi natural me conectar com a força da ancestralidade, com o sentido do mistério que envolvia a vida dos seres humanos que habitaram a Terra muito antes de nossa presença por aqui. Lembrei do sentido da Lua para os sumérios, hebreus, budistas, pensei nas luas dos Maias e, na realidade, enquanto refletia sobre as múltiplas percepções da Lua nas mais variadas culturas e tempos, pensava também no movimento da vida, na construção das normas em sociedade, nas possibilidades de produção de sentido e em como o Direito foi ganhando espaço, estruturando a vida em coletividade e em como é fundamental ter uma re-conexão com nosso sentido ancestral, de mistério de mundo, de olhar para cada dia como se fosse a primeira vez, porque de fato, é. Sei que não é tarefa fácil em nossa tão tecnológica contemporaneidade repleta de brilhos de falsos brilhantes. Enquanto refletia fui abrindo tantas portas, até que chega o momento que temos que dar uma pausa, pois, no meu caso, ouvi um chamado:


- Profeeeessooooora, tá na hora da aula!


Um beijo carinhoso para você.


Imagem: obra de Marc Chagall

5 comentários:

Tainá Facó disse...

Costumo dizer sempre que nasci do lado ocidental do planeta, mas sou amiga fiel da lua. A lua é tão maravilhosa. Ela me faz pensar em tantas coisas. Em tantos sentidos. Em tantas perguntas sem resposta. Hoje, ao terminar a aula hoje eu vinha olhando-a pela janela do carro: mais linda do que nunca. (vc viu?) Daí, pensei: como vivemos em um planeta tão gigante e tão despercebido? Ela estava radiante. Amarelo-dourado-cinza com um pouco do céu e uma estrela sempre brilhando ao lado dela. Me deu até uma invejinha, confesso.

Beijos, Ana.
Fica bem.
Você é linda!

Ana Valeska Maia disse...

Sim, Tainá, eu vi!!!
Bj grande minha flor.

Elan Lopes disse...

E quando me sinto só por ver tudo azul percebo que há outros ali que enxergam como eu. Sorrisos e presenças que sinto. Acenei pra um, troquei olhares com outro, senti a similaridade na forma de olhar entre eu e eles. Não fui lá me socializar com eles e depois me arrependi e me culpei. Hoje porém a culpa se foi, por descobrir que ontem me socializei com eles de outra forma, através de um astro celeste.
Sim garotas, eu também a notei e contemplei, tanto quando ela estava na sua forma mais esplendorosa na hora em que ia para aula, como também no momento de volta a casa. Adoro esse mundo!

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Ana: me identifiquei muito com seu texto. Como também sou professor de cursos de direito (história do direito, bioética e direito de empresa), por vezes (ou melhor: quase sempre) também me vejo abrindo portas de pensamento enquanto falo em aula. Na verdade consigo me organizar apenas através da fala e da escrita. Isso de ficar sentado com olhar contemplativo emparedando as idéias não me serve. Talvez por conta disso meus amigos não aguentam mais o fato de eu andar matraqueando demais nesses idos do final de julho e início de agosto, visto que aqui no sul estamos em recesso até o dia 17 por conta da gripe A. Mas o fato é que não existe ciência mais inter-poli-transdisciplinar do que o direito, o que me faz aumentar meu interesse por essa cachaça, como me dizia um antigo professor, cada dia mais. Um grande beijo, Eduardo.

Ana Valeska Maia disse...

Oi Elan que bom ter você por aqui, tomara que você venha sempre!

Eduardo é sempre bom quando você me visita, fiquei feliz com o teu comentário. Um beijo grande pra você.