Ardia para que ela não esquecesse. Raios vermelhos ramificavam-se a cada piscar, revelando o peso daquela noite inquieta, tingida por sonhos e sombras. Joana precisava criar compensações para o ardor que transbordava impunemente por seus olhos. O dia quente compactuava com o fogo, elemento indiscutivelmente predominante nesses tempos, sem terra, sem ar, sem água, sem frescor nem trégua. Por dentro e pelo entorno o clima ardia com profundidade de espírito. A alquimia das chamas poderia anular o ardor de dentro, procura acender o fogão, o botão automático quebra, cadê a caixa de fósforos, pronto, eis a chama acesa. As chamas do forno clamam pelo alimento, mas Joana não sabe o que comer. Uma lágrima escorre. Falta-lhe pão.
imagem: obra de Gustav Klimt
4 comentários:
"Atrás da terra, surge o grande rugido do silêncio. O horizonte avança para mim num incêndio". De longe (mas, tão perto, também), brasas queimando em meu coração inquieto, respondo, inquieto, ao seu ardor, com essas belas linhas de José Luis Peixoto.
Que bom que gostou. Eu te encontrei pelo blog da Aline. :)
Beijo bem grande. Volte sempre, pois eu voltarei sempre aqui.
Amada!
Eu adoro te ler!!!
=D
Nossa... o fogo que consome. Um fogo que parece eterno, que não se sabe o que ainda tem para queimar, mas ainda (e para sempre) gera calor.
Já vivi tantas lágrimas solitárias como essa da Joana...
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