tag:blogger.com,1999:blog-22713252852035553822024-03-13T00:39:34.073-07:00O Ser em MovimentoBlog de Ana Valeska MaiaAna Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.comBlogger505125tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-20745154986604460542015-05-12T14:54:00.002-07:002015-05-12T14:54:50.990-07:00A grande luta<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
A grande luta<br />num mundo embrutecido<br />é a manutenção da ternura.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Encontrar alimento pra alma<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />que não seja egoísta,<br />despistado pelas promessas individuais.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Atualmente uma das práticas humanas<br />que mais assusta<br />é a surdez.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Um fala.<br />O outro não escuta.<br />É surdez na alma.</div>
</div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-1231734187692230392014-12-04T06:25:00.001-08:002014-12-04T06:25:32.100-08:00Tempo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjta63uwBLPAA9_moAqp5DXd2oTivz49ILYECVz4HFdhsdW5NIkk-QmhNNzdT1kxkqOb2fDmzu9i-HuNrQ7OqDMNavjh5B5pnkvUQgnkiv59PdOZ0DX81aMkkPeiqUzlqdpGkybljlxW_E/s1600/Donde+puedes+amar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjta63uwBLPAA9_moAqp5DXd2oTivz49ILYECVz4HFdhsdW5NIkk-QmhNNzdT1kxkqOb2fDmzu9i-HuNrQ7OqDMNavjh5B5pnkvUQgnkiv59PdOZ0DX81aMkkPeiqUzlqdpGkybljlxW_E/s1600/Donde+puedes+amar.jpg" height="320" width="310" /></a></div>
<br />Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-28717070833816963522014-11-09T07:37:00.002-08:002014-11-09T07:37:22.090-08:00Perdidos no espaço <div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Por um momento procure imaginar a seguinte situação:
você está em seu local de trabalho, conversando com vários colegas durante um
intervalo. A maioria das pessoas que participam desta conversa você conhece
apenas superficialmente. Os assuntos são variados, desde o aniversário dos
filhos até o desejo de viajar nas próximas férias. De repente, vocês mudam o
assunto e o tema é o resultado das eleições. Então um de seus colegas começa a
falar colericamente. Afirma que n<span style="background: white;">ordestino
não é gente, que são seres estúpidos e responsáveis pelo atraso do país. Para combater esse atraso deveriam ser
adotados procedimentos de castrações químicas e, por fim, propõe que os médicos
da região causem um holocausto nesses seres inferiores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Creio que a situação narrada no contexto acima, se tomada
tal qual o ambiente descrito, dificilmente aconteceria. Nas relações de
trabalho existe uma série de instâncias reguladoras, mecanismos de vigilância e
controle de comportamentos. Mas se as pessoas procuram dominar o fluxo de
palavras odiosas em outros ambientes sociais, o que explica o jorro de insultos
despejado contra o outro nos espaços sociais virtuais? O teor virulento e maniqueísta das palavras
proferidas após a divulgação do resultado das eleições acirrou vozes que
procuraram aguçar o confronto entre regiões, reconfigurando o país com
neocolonialismos. No cerne do que foi dito, o que as palavras revelam? E, por
outro lado, o que camuflam? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Na análise deste fenômeno existe um dado constituinte do
ser humano que não pode ser desprezado: a agressividade. Para Sigmund Freud nascemos
conduzidos pelo império de nossas pulsões, que estão constantemente em busca de
satisfação e alívio das tensões. Essa vida instintiva é marcada por uma
dualidade: Eros e Tanatos, respectivamente pulsão de vida e pulsão de morte. Com
o processo civilizatório tivemos que renunciar a alguns desses caminhos de
satisfação imediata instintual. Direcionamos a agressividade para outros
caminhos e procuramos prazeres substitutivos. No entanto, o conflito implacável
entre Eros e Tanatos está sempre presente e produzindo fissuras. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Em pessoas infantilizadas psiquicamente, quando existem
grupos separados por uma diferença, como no caso da escolha do candidato à
presidência da república, há um severo conflito narcísico. A questão narcísica
foi factível nas redes sociais durante a campanha. Foi um período em que
observei discussões que culminaram em exclusões da rede e términos de amizades.
Houve uma cisão na identificação com o outro. Quando o resultado foi divulgado
o acúmulo de tensão fez romper a barragem responsável por conter o fluxo da
agressividade. O sentimento de pertença ao grupo, dependendo do grau dos
mecanismos de identificação, pode ensejar uma dissolução de <span style="background: white; color: #141823;">fronteira entre realidade e fantasia. A
agressividade é direcionada ao </span>diferente, desumanizando-o. Transformado
em inimigo, resta combatê-lo e quem sabe, destruí-lo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
<span style="background: white; color: #141823;">Portanto,
nas </span>atuais manifestações de ódio contra os nordestinos nas redes
sociais, existe um nítido comportamento narcísico de grupo, exacerbando uma
cisão da realidade que é própria da psicose. Perdidas na amplitude do espaço
virtual essas pessoas deixam de sentir o peso das instâncias reguladoras e
vivem sua onipotência infantil projetando no outro a responsabilidade por suas próprias
existências mal resolvidas. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
<o:p> Ana Valeska Maia Magalhães</o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
<o:p>(artigo publicado no jornal O Povo edição de 08/11/2014)</o:p></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-13160941354606598022014-07-16T04:51:00.001-07:002014-07-16T04:51:38.840-07:00Olhar com o coração<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDmFO9JKumQxE1jYD_bYjjO5GYXeSost8nzesii_oQ7nOqgFlKagXDauhEqBt4tDuL1skkSz0mMcp4m1UnHPYAieUQPnAABDsx4GwYuEzdTQztPFgTWMqr7lSByAt5zU_whw-Jn-FeQ3I/s1600/2007051900_blog.uncovering.org_fotografia_bavcar_veronica_whiththe_duck.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDmFO9JKumQxE1jYD_bYjjO5GYXeSost8nzesii_oQ7nOqgFlKagXDauhEqBt4tDuL1skkSz0mMcp4m1UnHPYAieUQPnAABDsx4GwYuEzdTQztPFgTWMqr7lSByAt5zU_whw-Jn-FeQ3I/s1600/2007051900_blog.uncovering.org_fotografia_bavcar_veronica_whiththe_duck.jpg" height="226" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #666666; font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Imagem: foto de Evgen Bavcar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #666666; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Provavelmente você já escutou ou leu algumas
vezes as máximas proferidas na obra “O pequeno príncipe” de Antoine Exupéry: “O
essencial é invisível aos olhos”. “Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com
o coração”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #666666; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ficamos tocados com a obra sensível
do autor. Mas manter o coração alerta para perceber o mundo não é tarefa fácil.
Queremos a segurança do olhar que atesta, verifica, que pode provar, catalogar,
racionalizar. Olhar com o coração significa estar aberto</span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> para o que não nos fornece compensações
materiais, segurança, ganhos financeiros, lucros imediatos, visibilidade,
reconhecimento, um lugar no mercado, títulos, cargos e importâncias catalogadas
pela sociedade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No âmbito das artes visuais o olhar é fundamental, já que trabalhamos privilegiando
o sentido da visão. Mas falamos aqui de um olhar caçador, que busca ver além do
que está posto na banalidade dos dias. Trata-se de um olhar que está além da
visão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Pensando nas qualidades desse olhar especial surge em minha lembrança a
obra fotográfica do esloveno Evgen Bavcar. Cego desde os doze anos de idade,
ele utiliza do tato e dos sons para ter a noção de espacialidade. É possível
perceber nas fotografias a composição estética com fortes contrastes de luz e
sombra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Conheci Evgen Bavcar por intermédio do
documentário “Janela da Alma”, dos diretores João Jardim e Walter Carvalho. Fiquei
impressionada com a beleza poética das fotos. Especialmente nunca esqueci da
declaração que Bavcar fez com relação a ele ser um “Narciso sem espelho”: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">“A imagem que mais me faz falta é aquela da
qual todos carecem: poder ver a si mesmo com seus próprios olhos. As pessoas
acreditam que se veem com seus próprios olhos, mas assim como eu, precisam de
um espelho. A diferença é que, no meu caso, os espelhos são diferentes. <b>Mas
isso é uma sorte pra mim porque dessa maneira evito de me afogar, tal qual o
infeliz Narciso. Sou um Narciso sem espelho, e isso é uma sorte.” (Evgen
Bavcar, Janela da Alma).</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Olhar com o coração na pressa visível na contemporaneidade é um desafio.
Mas é incalculável o que podemos trazer de uma jornada com o olhar
desperto. Perceber os detalhes
escondidos, ver o invisível, observar o movimento da natureza, o vento
promovendo o diálogo das árvores, o olhar para si. O tempo do olhar
contemplativo proporciona a consciência do raro no cotidiano e é nesse tempo
que desabrochamos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-20007137784000573522014-06-15T17:29:00.001-07:002014-06-15T17:29:48.302-07:00Sensações de uma noite estrelada<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuDNflnlb6-4P2-CejsDrsrMuv1IfR4TzWQVWDlvIa_3STFOUPoxjBv3cvQ49CKl4s0tOTUNlSTFm-oQA-je5HRYBjhVqVhFY4f4dI4-oRChzmmoqff9XrC6u648gCJBF-hV1RSZl5Pzg/s1600/noite+estrelada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuDNflnlb6-4P2-CejsDrsrMuv1IfR4TzWQVWDlvIa_3STFOUPoxjBv3cvQ49CKl4s0tOTUNlSTFm-oQA-je5HRYBjhVqVhFY4f4dI4-oRChzmmoqff9XrC6u648gCJBF-hV1RSZl5Pzg/s1600/noite+estrelada.jpg" /></a></div>
<span style="color: #666666; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Obra: “A noite estrelada”, Vincent
Van Gogh, 1889, óleo sobre tela, Museu de Arte Moderna, Nova York.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Para quem gosta de arte, a visita a um grande
museu costuma vir acompanhada de uma dose extra de ansiedade. Encontrar obras de arte “ao vivo” é diferente
de visualizá-las por intermédio de ilustrações nos livros e imagens recolhidas
da internet. Quando gostamos muito dos trabalhos de um artista, criamos expectativas,
porque criamos mundos novos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Permanecemos muito tempo contemplando o
trabalho, dialogando com ele. Nem percebemos os grupos de turistas, não ligamos
para os guias, que informam o título da obra, o ano, a técnica utilizada. Afinal,
não é isso o que mais importa. Creio que quem gosta de arte busca a relação, o
contato, a troca. Na ansiedade de saber o que levaremos conosco após a visita. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Senti uma forte emoção na primeira vez que vi uma obra de Vincent Van
Gogh. As pinceladas intensas, febris, mexeram comigo, foi impossível escapar do
rebuliço promovido pela intensidade da arte. Nunca esqueci a cor vibrante, as
personagens que pareciam saltar da tela. Talvez porque a história do artista
está impregnada no trabalho que ele realizou. Um sentimento de inadequação
seguiu o artista do começo ao fim de sua existência e ele buscava abrir espaços
de possível na arte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Vincent Van Gogh apreciava a comunicação por cartas. Realizou muitas
trocas epistolares e uma das mais profícuas foi com o irmão, Théo. Pelas
narrativas trocadas entre os irmãos é possível acompanhar os sonhos, desejos, medos,
crises emocionais, sensações, angústias, além das reflexões sobre o processo
criativo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
No tempo em que viveu, foi taxado como louco. É conhecido o episódio do corte da orelha, após
a briga com Paul Gauguin. Como artista, foi incompreendido na linguagem, vendeu
somente um trabalho. Atualmente, suas telas valem milhões de dólares. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
A arte segue caminho em marés turbulentas e paradoxais. No fluxo das dinâmicas sociais, a produção
artística está afetada pelos rumos de poder. No entanto, o que podemos trazer de
mais valoroso do encontro com a obra de um artista como Van Gogh? Cada um falará
por si, pois o que brota do encontro com a arte é do tear do mistério. No meu
caso, a sensação de uma noite estrelada me acompanha principalmente quando as
estrelas de meu céu não brilham tanto quanto eu gostaria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Van Gogh renova as esperanças. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.85pt; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<br /></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-106939493261525382014-05-20T06:14:00.003-07:002014-05-20T06:17:18.241-07:00Sós e Nós<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP7n0gh-DRiyPpK4BbWjwuJxwlziqc45CoBxM31bSlla8NvLC76LMvi6n64IamnY14u_vQuWL7U825F3uT_hf0TXNg8wSi9iwf6Cq2zNjYLsCTq2ataB-azRUF3LTpm11JK8r_WbxJ23A/s1600/Hopper.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjP7n0gh-DRiyPpK4BbWjwuJxwlziqc45CoBxM31bSlla8NvLC76LMvi6n64IamnY14u_vQuWL7U825F3uT_hf0TXNg8wSi9iwf6Cq2zNjYLsCTq2ataB-azRUF3LTpm11JK8r_WbxJ23A/s1600/Hopper.jpg" height="174" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span>Edward
Hopper. “Aves da noite”, 1942, óleo sobre tela, 84x142cm. <span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> </span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;">Nós
estamos sós. Solitários nas multidões. Confinados em espaços mínimos, unidos e
separados por muros, grades, cercas, blindagens e tecnologias. </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;">Sempre com pressa, em trânsito, com medo da
violência. Quase não conversamos, mas teclamos muito. Prisioneiros do celular,
dos aplicativos que nos castram. Narcísicos, sorrimos para a câmera e ensaiamos
poses. Queremos que nos vejam felizes, mesmo que seja somente nas imagens que
forjamos.</span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;">Assisti há pouco tempo, na sala de
vídeo da faculdade, o filme argentino “Medianeras”, de 2011. Um filme que trata
fundamentalmente da solidão contemporânea, na era do “amor virtual”. Vivemos em
grandes cidades, estamos juntos e paradoxalmente separados. Trata-se de um
fenômeno típico de nossa contemporaneidade: a solidão urbana.</span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Impulsionada pelas conexões que o
filme puxou, recordo as pinturas de Edward Hopper. Conhecido como o pintor da solidão, Hopper
lança mão de paisagens repletas de espaços vazios. As figuras humanas parecem replicar o vazio dos
ambientes. A sensação da pintura é de uma interioridade psíquica desértica,
melancólica, angustiada, permeada por um silêncio gritante. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A rua desértica surge na pintura “Aves
da Noite”. Aqui Hopper apresenta clientes num restaurante, revelando, pela luz
que banha o ambiente, uma clandestinidade solitária. No cenário, um homem de
costas parece desfiar mágoas internas, um casal sem intimidade afetiva, um
garçom que realiza mecanicamente os movimentos próprios do trabalho. Todos imersos em seus pensamentos e angústias
existenciais, sem pontes para o outro. Todos solitários. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> No filme “Medianeras”, o maior desejo
das personagens era de encontrar alguém com quem pudessem compartilhar
caminhos. Nas telas de Hopper, viceja implicitamente
este mesmo desejo. Afinal, como na tela ou no filme, se estamos sós, buscamos
encontrar um nós. Alguém para fazer par, fazer laço, amar. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-16038634069400168892014-05-10T07:45:00.003-07:002014-05-10T07:45:54.102-07:00A arte de encontrar caminhos<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mês
passado visitei um hospital mental. Meu objetivo era entrevistar um profissional
de saúde para um artigo científico. No entanto, não consigo esquecer algumas
situações que vi na instituição. Começando pela porta de entrada. O olhar
perscrutador do porteiro apontando a divisão das portas dos sãos e dos insanos.
Considerou-me, enfim, uma pessoa “normal” e disse: “A senhora entra por ali”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> O caminho “por ali” é percorrido por quem não
é considerado doente mental. Passei por vários corredores enquanto caminhava
até a sala de meu entrevistado. Observei, distribuídas pelas paredes, várias
pinturas realizadas por pacientes, muitas com graus de sofisticação estética
admiráveis. Lembrei da produção de Arthur Bispo do Rosário, como também das
obras de alguns artistas do acervo do Museu das imagens do Inconsciente. Dentre
eles, Fernando Diniz. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fernando
nasceu na Bahia. Era mulato, pobre, nunca soube quem foi o pai. Os desencontros
de sua história conduziram-no ao Centro Psiquiátrico Pedro II, local onde
passou a receber um tipo de tratamento, além dos medicamentos psiquiátricos. Telas,
papéis, tintas e pincéis passaram a ocupar sua narrativa de vida. E ele se
revelou um grande artista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
médica Nise da Silveira é referência quando se fala de tratamentos alternativos
e mais humanitários para quem sofre de algum tipo de patologia mental. Ela
fundou ateliês de pintura e modelagem na seção de terapêutica ocupacional a
partir de 1946, no Centro Psiquiátrico Pedro II. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Curioso
notar como nas artes, a loucura é tema constante. Filmes, peças de teatro,
obras visuais, espetáculos de dança e textos literários já exaltaram
personagens denominados “loucos”. Dom
Quixote, o cavaleiro andante de Cervantes, acreditava que moinhos de vento eram
perigosos gigantes. O leitor encanta-se com as façanhas do engenhoso fidalgo,
mas se um Quixote contemporâneo, de carne e osso, repetisse as impressões que
colhemos da literatura, como reagiriam as pessoas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> O fato é que o tema da loucura é
muito sedutor nas artes. Mas na vida, no cotidiano das pessoas, como um sujeito
considerado “louco” é compreendido? Provavelmente nosso hipotético Quixote
contemporâneo teria uma acolhida menos afetiva do que a do anti-herói
literário. Além das vicissitudes dos sintomas da doença ele teria que lidar com
o peso do estigma social. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Encerro esse texto correndo o risco
de pecar por excesso de romantismo, mas o fato é que tenho muita fé na arte. Acredito
que a arte pode ser ponte entre caminhos historicamente segregados dos
considerados sãos e dos taxados como insanos. Se arte e vida estão imbricadas,
vivemos um momento propício de simbiose. No sentido de que a simpatia que
nutrimos pelos loucos nas artes transborde para a vida, ao ponto de revelar a
compreensão íntima de que a loucura é humana demais. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(texto publicado também em www.segundaopiniao.jor.br) <o:p></o:p></span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-9593995860331750972014-04-28T15:29:00.005-07:002014-04-28T15:29:55.909-07:00A arte que não serve pra nada?<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #141823;">“O poeta é uma pessoa que reverdece nele mesmo”. <o:p></o:p></span></div>
<div align="right" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #141823;">Manoel de Barros. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZaTVaIvF-kHihZ5KBgAmcuusxA_4f045ztnlWIN1JV8NKmoqDku11lV0bv8Gwgg2m0MYqGvuWX6_jSDqb7VBom0FXSBvwSQKjPWS-6ta6ri3rLx5TkWQA4LCjKA9gypfw_lcw5ce3SR8/s1600/Br%C3%ADgida+Baltar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZaTVaIvF-kHihZ5KBgAmcuusxA_4f045ztnlWIN1JV8NKmoqDku11lV0bv8Gwgg2m0MYqGvuWX6_jSDqb7VBom0FXSBvwSQKjPWS-6ta6ri3rLx5TkWQA4LCjKA9gypfw_lcw5ce3SR8/s1600/Br%C3%ADgida+Baltar.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;"> Imagem:
“Coleta da neblina”, 2002, Brígida Baltar.</span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 4.5pt; text-align: right;">
<span style="color: #141823;"> <o:p></o:p></span><span style="color: #141823; line-height: 150%; text-align: right;">“O poeta é uma pessoa que reverdece nele mesmo”.</span></div>
<div align="right" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #141823;">Manoel de Barros. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;">No
ano de 2002, a artista Brígida Baltar saiu em jornada. Munida com frascos de
vidro, acoplados em suas costas por uma espécie de colete feito de plástico-bolha,
a artista coletou a neblina. Fez o mesmo procedimento com o orvalho e a
maresia. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;">A
imagem extremamente contemplativa e poética do trabalho de Brígida evocou
muitas memórias, principalmente literárias. Evocações que passam pelo sentido
da arte. Recordei Júlio Cortázar. De sua escrita sobre Cronópios e Famas. Diz o
autor argentino que o Cronópio tem sua força na poesia. “Eles cantam, como as
cigarras, indiferentes ao prosaísmo do cotidiano”. Os Famas são acomodados,
prudentes e dados ao cálculo. Verificam os preços, a adequação à forma, se está
tudo de acordo com o figurino, seguem padrões pré-estabelecidos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;">Numa
sociedade de encaixes, fórmulas e padrões impostos, um Cronópio é um ser
estranho, desencaixado. Em um mundo rígido, em que tudo tem que servir para
alguma coisa, ter uma função específica, qual o lugar de um Cronópio? Qual o
sentido da arte? Para que ela serve? <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;">Manoel
de Barros responde. Para que escrever sobre formiguinhas, sapos, borboletas? De
que adianta escrever sobre isso? “Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia
acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades”, diz o poeta.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #141823;">Um
artista nunca realizará feitos maiores do que a natureza já fez. Se a arte
serve para alguma coisa é para nos dar um sacolejo, no sentido de lembrar que a
vida vale mais do que a arte. E é por isso que sem arte a gente não vive. </span><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #666666;"><o:p></o:p></span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-82180065890455863732014-04-19T14:44:00.000-07:002014-04-19T14:44:01.001-07:00Histórias de arte e paixão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEgyC1_nutvSKjG-ZBDpWUIvAltvu5WTKTAGx5dgZTZsy2GgdGkMDzz-rFl3Br671q7lwUEPkFkyXEphyphenhyphenwqFqg4nG4iP8LcmA7CpCE5-ORmfCwZDjyVjL2q5HcO-fm83VeA_hNK-OCr5M/s1600/Frida+Kahlo+%E2%80%93+Diego+em+Meu+Pensamento.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEgyC1_nutvSKjG-ZBDpWUIvAltvu5WTKTAGx5dgZTZsy2GgdGkMDzz-rFl3Br671q7lwUEPkFkyXEphyphenhyphenwqFqg4nG4iP8LcmA7CpCE5-ORmfCwZDjyVjL2q5HcO-fm83VeA_hNK-OCr5M/s1600/Frida+Kahlo+%E2%80%93+Diego+em+Meu+Pensamento.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; text-align: center; text-indent: 30.05pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Título
da obra: “Diego em meu pensamento”, Frida Kahlo, 1943. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; text-align: center; text-indent: 30.05pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 30.05pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 30.05pt;">Em
um domingo de quietude, passeio os olhos pelas estantes de livros, direcionando
meu pequeno percurso para o local que abriga os livros de arte. Encontro duas
biografias que prendem meu olhar. Folheio as páginas, agora amareladas pelo transcurso
do tempo, encontro anotações e grifos antigos. Sei que algumas pessoas não anotam
nada em seus livros, mas costumo dizer que os livros que recebem anotações são
os livros realmente “habitados”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 30.05pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era
1994 quando adquiri os primeiros escritos sobre a vida e a obra das artistas Frida
Kahlo e Camille Claudel. Além da magnitude das obras, recordo que um ponto marcante
foram as narrativas envolventes sobre as paixões em ambas as histórias: Camille
e Auguste Rodin; Frida e Diego Rivera. Marcando, assim, uma profunda ligação
entre vida amorosa e obra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 30.05pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Camille
Claudel (1864-1943) costuma ter a imagem atrelada ao escultor Auguste Rodin
(1840-1917), inclusive no tocante ao desenvolvimento de sua obra. O caráter tempestuoso
de sua relação com Rodin ensejou diversas biografias, filmes, documentários e
estudos acadêmicos. Delbée (1988, p. 40) ressalta esse associar à figura do
mestre, destacando o sofrimento de Camille, que “retorce o coração”, sabendo
que será um “eco triste do ser amado”: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Camille entre suas quatro paredes
brancas. O sofrimento amargo e duro. O sofrimento que retorce o coração.
Camille bate na parede, com suas mãos irmãs, grita o nome aos espelhos, como se
lhe fossem dar o ser amado, a luz que ela espera, a luta que ela quer
recomeçar. Lassidão e sobressalto, recusa, quando é preciso confessar-se
vencida, e no entanto ela já sabe que aos olhos do mundo será sempre o eco
triste do ser amado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 30.05pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Camille
Claudel foi uma mulher de forte personalidade, possuía um comportamento atípico
para a época em que viveu. Desafiando as proibições impostas às mulheres, fazia
esculturas de homens nus, algo incomum no século XIX. O contato com Rodin
possibilitou que ela recebesse a orientação de um grande artista. No entanto, a
forte paixão que brotou desse encontro e o rompimento turbulento da relação,
conduziram Camille por um caminho perigoso, descontrolando-a emocionalmente. A artista passou por várias crises psíquicas e
foi internada pela família em um manicômio. De lá nunca mais saiu. Viveu em uma
instituição manicomial por trinta anos, até seu falecimento em 1943. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seu
trabalho é dotado de uma expressividade única. Destaco as obras: “A pequena
sereiazinha”<i>, O Sankutala (1888), “</i>A
valsa”, (1892),<i> Clotos </i>(1893),<i> “</i>A idade
madura”<i> </i>(1899), que demonstram o
apuro técnico da artista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Décadas
depois, em Coyoacán, no México, Frida Kahlo também assume posturas
diferenciadas. Além de vestir-se vez ou
outra com roupas masculinas, privilegiava a cultura nativa, adotando roupas e acessórios
pré-colombianos na composição de seu estilo. As vestes <i>tehuana</i> estavam comprometidas com seu posicionamento político, pois
Frida lutava pela consciência nacional mexicana, pela arte mexicana
independente. Ela e outros artistas mexicanos, como Siqueiros e o próprio
Rivera, levantavam a bandeira do partido comunista, e esse era um tema forte,
principalmente nas pinturas muralistas, das quais Diego Rivera é o principal
representante no México. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Entretanto,
existem dois pontos ainda mais marcantes na obra de Frida Kahlo: a dor, as sequelas
físicas do acidente que sofreu quando tinha dezoito anos e as angústias do amor
intenso por um conquistador irrefreável, como era Rivera. Frida representava
suas dores com toda a crueza que sua arte permitia. Vísceras, sangue, pedaços
dos filhos mortos, as dores físicas e simbólicas foram escancaradas na obra de
Frida Kahlo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Diego Rivera chegou a ter um caso com
a irmã mais nova de Frida, Cristina. Doeu demais e é célebre a pintura que
Frida realizou após esse episódio: aparece com os cabelos cortados, os fios
espalhados pelo chão e vestida como homem. Despojada de sua feminilidade, ela
sofria amargamente. Os biógrafos afirmam que suas dores pioravam muito quando
estava separada de Diego. Viveram entre idas e vindas, separações e
reconciliações. Apesar de Frida ter se relacionado com outras pessoas, Diego
Rivera é sempre destacado em sua arte e escritos autobiográficos como seu
grande amor. Refere-se a Diego em seu diário como: “meu namorado, amante,
marido, pai, mãe, filho, universo”. Outras frases são emblemáticas, surgem como
um grito de lamento: “Diego, estou só!” ou ainda: “Porque eu o chamo <i>meu</i> Diego?
Ele nunca foi ou será meu. Ele pertence a ele mesmo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Referências:
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">DELBÉE, Anne. <b>Camille Claudel, uma mulher.</b> São Paulo:
Martins Fontes, 1988. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
JAMIS, Rauda<b>. Frida Kahlo. </b> São Paulo: Martins Fontes, 1992. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ana Valeska Maia Magalhães (publicado no www.segundaopiniao.jor.br) <o:p></o:p></span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-15235769453796114082014-04-12T06:55:00.002-07:002014-04-12T06:55:35.684-07:00A arte e os sonhos II<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibnjgrYR7H-7mwQDJECRzBcfyItHV8biHizESi_b5sW3mNc3Z13tD7Gyx5ltJvKJaa5h42zzYyxD65ViojqIQNg1zkwrqFd-xA17LOPbcfLHIjmC918kvEudt73xdeWZBsSRvoGZ2fN_A/s1600/a+persist%C3%AAncia+da+mem%C3%B3ria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibnjgrYR7H-7mwQDJECRzBcfyItHV8biHizESi_b5sW3mNc3Z13tD7Gyx5ltJvKJaa5h42zzYyxD65ViojqIQNg1zkwrqFd-xA17LOPbcfLHIjmC918kvEudt73xdeWZBsSRvoGZ2fN_A/s1600/a+persist%C3%AAncia+da+mem%C3%B3ria.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Obra: “A persistência da memória”, Salvador Dali,
1931. Óleo sobre tela, 24cmx33cm. MoMa, Nova York, EUA. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Falamos em nosso texto anterior sobre a relação dos
sonhos com a arte, tratando um pouco da perspectiva psicanalítica e destacando
a obra “O sonho de Constantino”, de Piero
Della Francesca. Para nosso texto de hoje evoco novamente os escritos de Freud,
principalmente o trabalho que abriu a psicanálise para o mundo: “A
interpretação dos sonhos”, obra publicada em 1900. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">“A interpretação dos sonhos” abriu caminho novo,
impactou e revolucionou uma época e continua a estender seu campo de ação na
contemporaneidade. Analisando as noções sobre o sonho até então elaboradas, Freud
lança seus porquês, cujo principal questionamento reside nas perguntas: os
sonhos possuem um significado? Este pode ser interpretado? Simpatizando com a noção popular de que os
sonhos possuem um sentido, ele tece um método de interpretação dos sonhos, fundamentando-os
na linguagem do inconsciente e explicitando a ligação existente entre sonhos e
a realização de desejos reprimidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Admirador dos clássicos, Freud era colecionador de
antiguidades e escreveu textos sobre Leonardo e Michelangelo. No entanto, as concepções
de Freud acerca dos sonhos e do inconsciente afetaram a produção de artistas de
vanguarda das primeiras décadas do século XX. Movimentos artísticos e
literários exaltavam a obra do pai da psicanálise, mesmo que este “pai” não
fosse entusiasta da produção artística de vanguarda. Como já dito
anteriormente, em matéria de arte, Freud preferia os clássicos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">O surrealismo emerge oriundo de vários movimentos anteriores,
como o dadaísmo. Em comum nesses movimentos estava a ruptura com cânones
estabelecimentos e uma abertura a novas linguagens e representações. Para os
observadores da época essas inovações eram incômodas, estranhas, sem sentido,
desconexas. Sem uma narrativa de conteúdo de sentido manifesto, pareciam-se
muito com a trama de um sonho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">O sonho instiga um campo fértil de produção para o
movimento. Salvador Dali (1904-1989) é um dos artistas que mais se destacaram
nessa linguagem. Podemos ver na tela “A persistência da memória” um cenário
estranhamente onírico, com relógios de bolso moles, formigas, um litoral vazio,
melancólico e uma figura inusitada com imensos cílios, de olhos fechados. Que tempo é esse, que a imagem manifesta? Um
tempo que escorre, fluido, líquido. Um tempo que, ao buscamos agarrá-lo, escapará
de nós. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">(publicado também no segundaopiniao.jor.br)</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-16705143956083683192014-03-31T15:36:00.000-07:002014-03-31T15:36:08.860-07:00A arte e os sonhos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPU5Y1niRVzcUBrkTocSsOyFV2S5SeKqE7zMJ0ELYho0FnNlHfociV9zgTrUAgqvl-qXDsZAGH5aQ91QcBUDwqL3K3on9U7OVmYe8HOH4VLMUiuhffQxs96CM0jS53ZEM2z-uWoXdAORE/s1600/O+sonho+de+Constantino.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPU5Y1niRVzcUBrkTocSsOyFV2S5SeKqE7zMJ0ELYho0FnNlHfociV9zgTrUAgqvl-qXDsZAGH5aQ91QcBUDwqL3K3on9U7OVmYe8HOH4VLMUiuhffQxs96CM0jS53ZEM2z-uWoXdAORE/s1600/O+sonho+de+Constantino.jpeg" height="320" width="173" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Imagem:
“O sonho de Constantino” 329x190 cm </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">(1452-1456),</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">, de Piero Della Francesca. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Afresco, Capela Magiore, Igreja de São Francisco, Arezzo,
Itália.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span><span style="background-color: #f5ece0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Jorge Luís Borges (2010) fala que não existe um
único homem que não seja um descobridor. Começamos descobrindo o amargo, o
salgado, o côncavo, o liso, o áspero, as sete cores do arco-íris e as vinte e
tantas letras do alfabeto; passamos pelos rostos, mapas, animais e astros, para
finalmente concluirmos pela dúvida ou pela fé, ou ainda, pela certeza quase total da própria
ignorância. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Creio que Sigmund Freud se deu conta de uma maneira
muito peculiar sobre a vastidão dos territórios inexplorados do universo humano.
Assim como Borges, Freud indagou-se sobre descobertas, contatos, afetos e quis
descobrir os efeitos dessa miscelânea de possibilidades na floresta
desconhecida do eu. Observou atentamente o que se revelava, em fala e sintoma, para
encontrar camadas escondidas ou metamorfoseadas. Paulatinamente deu ênfase aos
começos que nos acompanham por todo o existir, como a relação que estabelecemos
com mãe e pai e os acontecimentos determinantes e esquecidos da primeira
infância. Perscrutou também como tudo isso reverbera, mesclado ao conjunto de
afetos do dia anterior, na trama de um sonho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Freud não foi o primeiro desbravador do microcosmo
humano, nem foi o primeiro a propor um conhecimento mais profundo de nós mesmos
(a filosofia grega clássica já havia muitos séculos antes, lançado a proposta
do “conhece-te a ti mesmo”). Freud, no entanto, inovou por ir além, de uma
maneira tão profunda e rica ao ponto de criar um novo método de conhecimento do
ser humano, a psicanálise. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Desde a antiguidade, os sonhos intrigam os seres
humanos. Muitos povos nativos acreditavam que quando dormiam suas almas saíam
de seus corpos e temporariamente entravam em outro mundo. O sonho era a
lembrança dessa estranha visita. Recordo de José do Egito, talentoso em
decifrar enigmas oníricos, garantindo prosperidade para a corte do Faraó. No
âmbito de minha família lembro que minha avó era afeiçoada à crença popular de
que o sonho é aviso de acontecimento futuro. Meu tio, ao contrário,
desacreditava dos poderes oníricos. Para ele um sonho “era apenas um sonho,
nada mais”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Dizem que Constantino, o primeiro imperador
cristão, recebeu a mensagem de sua conversão por intermédio de um sonho. Esse
sonho foi transportado para o pictórico em um afresco de Piero Della Francesca,
intitulado “O sonho de Constantino” (1452-1456), localizado na Capela Magiore
da Igreja de São Francisco, em Arezzo. Na imagem, enquanto Constantino dorme, às
vésperas de uma batalha crucial, dois guardas e um servo garantem a
tranquilidade de seu sono. Acima, um anjo em forma de pássaro dá o
direcionamento da mensagem divina. As escolhas cromáticas do mestre do
“Quattrocento” (ou o Renascimento no século XV), permitem a criação de uma aura
que transita entre o onírico e o real, dissolvendo as fronteiras de separação
entre os dois mundos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;">Apesar das controvérsias a respeito da veracidade
do sonho do imperador, (já que colocam fatores políticos como os que realmente
ensejaram a conversão de Constantino), podemos ver a força do sonho na criação
de um imaginário cultural. Outros artistas exploraram a temática do sonho como
um aviso divino, como Giotto (O sonho de Joaquim) e Rembrandt (O sonho de José),
obras e artistas que tratarei em textos futuros. No entanto, em nosso próximo
texto, o foco será direcionado a um movimento artístico do século XX, que
elegeu a linguagem dos sonhos como um campo fértil de produção artística: o
Surrealismo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Referências
bibliográficas<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">BORGES, Jorge Luís. <b>Atlas: </b>Jorge Luís Borges com Maria
Kodama. São Paulo: Companhia das Letras: 2010. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(texto originalmente publicado em </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 18.399999618530273px;">http://segundaopiniao.jor.br/)</span></span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-87663177506724906202014-03-25T12:22:00.004-07:002014-03-25T12:22:47.002-07:00Eventos Gepfor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Dois eventos imperdíveis promovidos pelo Gepfor:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWlOOdP7Ph8gIdWYp9M9oPAIhNSWf6FDEZh2LF1uOr9Oewmh9yInyBg61opDJ3NMKMRnKI2dawg2Q75P5TAfxE28DJ3f1HVkN1JK72-tKfDuRT6EkJu1e-vJMHRvIHGWT6SAdV08lF6B0/s1600/A+ca%C3%A7a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWlOOdP7Ph8gIdWYp9M9oPAIhNSWf6FDEZh2LF1uOr9Oewmh9yInyBg61opDJ3NMKMRnKI2dawg2Q75P5TAfxE28DJ3f1HVkN1JK72-tKfDuRT6EkJu1e-vJMHRvIHGWT6SAdV08lF6B0/s1600/A+ca%C3%A7a.jpg" height="225" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYcOdpK4WoJpYAISycEx2aqqcOXMBLVcuKNfNy0_JZ6Cwzr1mEGKg7uDs87ILxqnKP4na6v-duef6x8XwyY9UXZQBFDxLumcpc74ifsETltMDGW5uIH9Qnjio2PJlaxJ54sShmIs4azUw/s1600/Curso+Gepfor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYcOdpK4WoJpYAISycEx2aqqcOXMBLVcuKNfNy0_JZ6Cwzr1mEGKg7uDs87ILxqnKP4na6v-duef6x8XwyY9UXZQBFDxLumcpc74ifsETltMDGW5uIH9Qnjio2PJlaxJ54sShmIs4azUw/s1600/Curso+Gepfor.jpg" height="320" width="226" /></a></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-37983890102497303872014-03-10T15:00:00.002-07:002014-03-10T15:00:24.108-07:00Exposição Maíra Ortins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgshyeoODr2VyfVMDdLESlAOTJvdIhf4DbnzM_4lUmrSsrzccwDIjgvg1DQ9bIskqpvHWb8iacng7kQK9LVv6BKvuEg2LswRvI5gY79extKcRdt_GQdY3ioROInGf87lVMqaY7sBmbxZyw/s1600/Flayer+eletronico.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgshyeoODr2VyfVMDdLESlAOTJvdIhf4DbnzM_4lUmrSsrzccwDIjgvg1DQ9bIskqpvHWb8iacng7kQK9LVv6BKvuEg2LswRvI5gY79extKcRdt_GQdY3ioROInGf87lVMqaY7sBmbxZyw/s1600/Flayer+eletronico.png" height="320" width="214" /></a></div>
Divulgando a exposição da Maíra Ortins.Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-40613373916764697682013-12-30T06:45:00.001-08:002013-12-30T06:47:26.123-08:00Dezembro por dentro<div style="text-align: justify;">
É fácil observar dezembro por fora. Está nas luzes da cidade, nas
ruas congestionadas e barulhentas, na irritação dos motoristas, na
decoração kitsch dos shoppings, na grosseria dos consumidores. Dezembro
por fora está nas confraternizações de empresas e repartições. Está nas
propagandas que ressaltam que o importante de tudo é o amor e que este
sentimento tão sublime deve ser celebrado com presentes legitimados pelo
mercado.<br />
<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
Por ser tão por fora, por mostrar-se
escancaradamente nas embalagens, dezembro é um mês que irrita muita
gente. Alguns fogem, embarcam num avião para bem longe e enxergam as
luzes de natais estrangeiros. Outros são vitimados por alguma doença
oportunista como desculpa para escapar das celebrações familiares. Há os
que ficam tristes e assumem o isolamento. Para muitos, dezembro não é
um mês fácil. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, de repente, dezembro chega por dentro.
Garimpa discretamente um lugar, faz um trabalho minucioso, silencioso,
na contramão do burburinho de fora. Convida a uma aprendizagem solitária
chamada reflexão. Atitudes, egoísmos, falhas, generosidades, desejos
realizados e desejos frustrados. Enfim, o que fomos em 2013 é passado a
limpo. Na reflexão, percebemos que estamos sempre aprendendo a viver. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois
de arrumar um pouco o espaço interior, é hora de sonhar outra vez.
Dezembro por dentro aprecia a terra, gosta de lançar sementes, prepara o
território do novo, imagina jardins. Hilda Hilst escreveu: “Canta!
Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas... canta o começo e o fim. Como
se fosse verdade. A esperança”. Apesar das dores, apesar dos machucados
do existir. Sempre há uma chama acesa enquanto não chegam os primeiros
raios de sol. Sem esperança é impossível viver. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Heráclito, o
filósofo, defendia a eterna mudança. É nesse fio estreito que separa um
ano do outro que são renovados sonhos. Enquanto for possível preencher o
silêncio com palavras, avançamos. <br />
<br />
E janeiro será sempre repleto de jardins. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ana Valeska Maia Magalhães </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 27/12/2013) </div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-47003456329388497832013-12-01T07:42:00.001-08:002013-12-01T07:42:38.690-08:00No cerne da tempestade<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeCulUD4lU6MqOGS3YXnkBoFwpTLGGbATTmfJaYPkqH_jR1quEv1N2LknmaaFmS5E-JdruyT0LBz5Fbz1y-IrHpp7Hfvt_-A-O5BOl7v8pNPhyShYxNohXGdpTUtHYWvPd9iXbOTbSka8/s1600/snwstorm.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeCulUD4lU6MqOGS3YXnkBoFwpTLGGbATTmfJaYPkqH_jR1quEv1N2LknmaaFmS5E-JdruyT0LBz5Fbz1y-IrHpp7Hfvt_-A-O5BOl7v8pNPhyShYxNohXGdpTUtHYWvPd9iXbOTbSka8/s320/snwstorm.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
William Turner,
considerado por muitos o maior pintor inglês da história, lançava
impiedosamente o espectador na turbulência das águas. As imagens de Turner, as
que mais me impressionam, exibem a natureza imperiosa no esplendor de sua
força. A presença humana é reduzida em barcos mínimos, quase tragados pelas
gigantescas ondas. Mar revolto, mar adentro, tempestade, tormenta, vento em
fúria, abismo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
É inquietante
ter o barco à mercê das forças das ondas. Recordo a aula sobre Turner e o
prolongado silêncio dos alunos, maravilhados com a obra do artista e igualmente
perturbados, forçados a um desvio de rota. Influenciados pela sensação de
deriva, dialogamos sobre o poder da arte e a capacidade de incomodar, surpreender,
arrancar mordaças e fazer falar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O debate
prosseguiu sobre a coragem, essa virtude tão admirada e, por que não dizer?,
rara em nossos dias. Nossa contemporaneidade produziu seus medos, cultivou um
imaginário lucrativo de proteção, dominado pela lógica empresarial, para o qual
nos resta apenas obediência e adaptação. O que dizer de uma sociedade que vende
segurança? Cercas elétricas, câmeras para vigilância, monitoramento 24 horas,
monitoramento via internet. Multiplicam-se as grades tecnológicas. Todas,
prisões.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
É claro, existe
o medo, o trauma da violência, a dor, a perda, a morte. Entretanto, não estamos
proibidos de pensar sobre as manipulações, as distorções da pseudo segurança
comercializada, como se, adquirindo os pacotes prontos, finalmente pudéssemos
sossegar, em paz. Isso é ilusão. O que determina o medo e a segurança, nesses
termos, é a ideologia.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Volto às imagens
de Turner e associo à escrita de um amigo que diz: “Para encontrar calmaria, é
preciso plantar o coração no cerne da tempestade”. Assistimos todos os dias a
cenas de desespero, humilhação, fome e morte. Tornaram-se banais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O susto diante
das imagens de Turner reafirma a potência da arte. Entre outras possibilidades,
a arte faz falar, como no sonho, sobre nossos desejos e medos mais profundos. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 29/11/2013; imagem: Willian Turner) </div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-75294900343301702492013-11-19T04:19:00.001-08:002013-11-19T04:23:25.860-08:00Fora de foco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5B9BUQEIO8RWGjCHhAaHvpzfjz2Je5ot-7EWVYVBo46QDK18LE6pXUhgqFcTQt-qaDeldsW5GFMLjPi2rm6Zs6QghiwyZdhZfjCmTxtwtR5tH0BfyKW_5iB3zEWM5j1RrTvywpiu8UMY/s1600/6169674186_fca8af7859_z.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5B9BUQEIO8RWGjCHhAaHvpzfjz2Je5ot-7EWVYVBo46QDK18LE6pXUhgqFcTQt-qaDeldsW5GFMLjPi2rm6Zs6QghiwyZdhZfjCmTxtwtR5tH0BfyKW_5iB3zEWM5j1RrTvywpiu8UMY/s320/6169674186_fca8af7859_z.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Opera! Uma quase ordem que ouvi várias vezes acerca de minha severa
miopia. Nem sei dizer exatamente por que reluto com férrea força em me
desfazer da possibilidade de ver o mundo embaçado. Qual o sentido de
querer permanecer com algo que desestabiliza, dissolvendo constantemente
a nitidez das coisas?<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
Era um pingo de gente quando
comecei a usar óculos. Uma professora percebeu meu olhar espremido
procurando mapear a nuvem no quadro de giz. A cada ano, as lentes
ficavam mais grossas e é estranho agora lembrar que as reminiscências
mais nítidas da infância são as dos dias fora de foco, quando os óculos
quebravam. Sem ver o mundo de fora, tecia um mundo por dentro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acho
que a gente se constrói no que os outros chamam de defeito. Um conto de
Clarice Lispector, Evolução de uma miopia, é muito precioso ao tratar
do menininho míope, constantemente preocupado em ser aprovado por suas
qualidades. A evolução da miopia desenha um caminho desestabilizado, que
o conduzirá a uma das raras formas de estabilidade: a do desejo
irrealizável, do ideal inatingível, do impossível, do imoderado, da
paixão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é fácil ver fora de foco – falo mesmo no sentido
metafórico, já que descentrar o olhar implica um descascar de vestes
laboriosamente curtidas pelo enquadramento social. Uma aprendizagem de
desaprender, como disse Caeiro. Mas como desaprender nesse momento
histórico que compartilhamos? As fórmulas fáceis ecoam, a educação veste
as cores do mercado, as terapias instantâneas prometem a resolução das
angústias humanas e a vida cotidiana é problematizada em termos
psiquiátricos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na era da ideologia da competência o
reconhecimento da própria fragilidade pode, para muitos, vir a
representar sinônimo de ruína. No entanto, num tempo em que,
bombardeados pelas imagens imponentes de seres humanos de braços
cruzados, num tempo em que muitos almejam ser o simulacro da liderança, o
que nos desestabiliza também pode nos libertar. </div>
<br />
Ana Valeska Maia Magalhães<br />
<br />
(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 15/11/2013) Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-56230751781713286152013-11-10T06:14:00.003-08:002013-11-10T06:14:53.409-08:00A psiquiatrização da vida cotidiana<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi71ttOSz_FMxLikjrh0-5LDIOONuR8BwiKyyyiZjOrkDzwLrS9HNyZluZm-vQEJ9leCqIVhE-r-3-8i0uEZ0ep1XBQNNuseuQBk1XiC9sLpqHXSYnafD4kM8F5UCkj_xWekvIeM7fRQqY/s1600/UM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi71ttOSz_FMxLikjrh0-5LDIOONuR8BwiKyyyiZjOrkDzwLrS9HNyZluZm-vQEJ9leCqIVhE-r-3-8i0uEZ0ep1XBQNNuseuQBk1XiC9sLpqHXSYnafD4kM8F5UCkj_xWekvIeM7fRQqY/s400/UM.jpg" width="282" /> </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Tema fundamental para compreendermos nosso tempo. </div>
<br />Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-5099000608802704972013-11-02T14:13:00.002-07:002013-11-02T14:13:59.791-07:00A vida que temos para amar<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Domingo de sol alto, conversa e riso frouxo. Aqui por casa planejávamos algum passeio, já nem lembro. Recordo apenas do som. O toque do celular, a hesitação, a dúvida. Atendo a chamada de um número desconhecido? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Atendi e o tom da voz do outro lado trancou a alegria do domingo. Fui do riso às lágrimas. É sempre muito difícil ser forçada a acabar uma história. É sempre<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"> muito difícil aceitar a morte de quem amamos.</span></div>
</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline;"><div style="text-align: justify;">
<span style="color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<span style="color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
“Filosofar é aprender a morrer”, disse Montaigne, que buscou inspiração em Cícero, que foi tocado pela reflexão de Platão. A morte é tema caro aos filósofos. Foi e sempre será um tema rico, pois, diante do fato da morte, elaboramos perguntas sem respostas conclusivas. Por ser mistério é também cara às religiões. A morte viceja em nossos anseios. Quem não a teme? Quem não teme a morte dos outros?</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Leio Jorge Luís Borges que diz: as coisas que ocorrem a um homem ocorrem a todos. E penso como todos se sentem diante do impacto da morte de alguém querido. Será que também passam por algo parecido com um retorno à infância? Nesse retorno, será que a criança que um dia fomos consegue reconhecer o adulto que nos tornamos?</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Diante da perda irreparável, a pressa e a blindagem dos dias perdem o sentido. Ao mesmo tempo em que recordamos com uma saudade doída os momentos vividos, somos fulminados por uma espécie de autopunição que indaga por que não fomos mais presentes, por que demos tanta importância ao que afinal não tem tanta importância. </div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
“Se queres amar a vida, se queres apreciá-la lucidamente, não te esqueças de que morrer faz parte dela”, anuncia André Comte-Sponville. A dor da morte auxilia a reacender em nós a importância de amar as pessoas nesta vida, que é a vida que temos para amar. A morte, ao expor a fragilidade da existência, diz nas entrelinhas: cuide de seu jardim, para que você se recorde dele florido, no alto da primavera. O amor que sentimos nunca deixa de adubar a saudade, que agora floresce na música que fazia minha avó sorrir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ana Valeska Maia Magalhães</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
crônica publicada no jornal O Povo, edição de 01 de novembro de 2013. </div>
</span></span>Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-4565565497910932322013-10-21T05:46:00.001-07:002013-10-21T05:50:17.498-07:00O dom da palavra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjww7wlV7OxaF2zOWZxHuCJiR53AD1FVi46WdrX3audKtsRczKeoCero0FcUBpvbvEIh1Ig4sZd1WcWZYt1ERTGA1hGlhteDFIPsiOppogBb66Y8sbtTcMw240tsGZlBwedQp_Sd_zJHjA/s1600/Adriana-Varej%C3%A3o-3-522x420.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjww7wlV7OxaF2zOWZxHuCJiR53AD1FVi46WdrX3audKtsRczKeoCero0FcUBpvbvEIh1Ig4sZd1WcWZYt1ERTGA1hGlhteDFIPsiOppogBb66Y8sbtTcMw240tsGZlBwedQp_Sd_zJHjA/s320/Adriana-Varej%C3%A3o-3-522x420.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Estive
recentemente em Minas Gerais e enlacei ao roteiro de viagem uma visita ao Instituto
Inhotim, situado no município de Brumadinho. A paisagem é fenomenal e convida o
visitante a caminhar durante um dia inteiro por um imenso jardim botânico entremeado
por vários pavilhões de exposição de arte contemporânea. Na aventura dos passos
e descobertas fiz porto no pavilhão da artista Adriana Varejão. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Minha
atenção foi fisgada pelas ruínas de uma parede de azulejos, expondo um farto recheio
de vísceras. Essa azulejaria em carne viva fez-me lembrar da primeira imagem
que vi de uma obra de Varejão. Tratava-se de uma cena colonial, uma pintura
representando o estupro de uma escrava pelo branco colonizador e o suplício de
uma índia por dois soldados. Uma incisão no meio da pintura revelava a ferida histórica,
num reforço do contexto de violência que construiu a sociedade brasileira. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
As
lembranças das obras da artista Adriana Varejão emergiram por conta dos entrelaçamentos
históricos presentes no discurso do escritor Luiz Ruffato, proferido na
abertura da Feira do Livro de Frankfurt. Ruffato é exímio contador de histórias,
invencioneiro de mão cheia. Escritor fértil no uso do dom da palavra fez uso
deste dom para falar a verdade em território estrangeiro e descascou as tintas
da invenção de um Brasil estereotipado pelo samba e futebol. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Sei que
é difícil mexer em ferida, mas não andamos lidando com essa dor mexida e
remexida todos os dias, enfrentando as consequências das heranças colonial, elitista,
patriarcal, escravocrata, adultocêntrica, heterossexista e latifundiária denunciadas
por Ruffato? Afinal, porque é tão polêmico afirmar o que já sabemos? Deve ser porque
a gente criou costume de se contentar com pouco, de ver a vida pelos olhos do
outro, de fazer vista grossa para a hipocrisia. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Outro
ponto forte do discurso de Ruffato reside no fato de ser autobiográfico. Narra a vida real de alguém que teve sua
trajetória alterada pelo contato com os livros. O encontro com a arte cria mundos
novos. Trabalha em nós o manejo do dom da palavra, de fazer falar sobre nossa
condição de existir.<br />
<br />
Ana Valeska Maia Magalhães. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Crônica publicada no jornal O Povo, edição de 18/10/2013. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Crédito da imagem: obra de Adriana Varejão "Filho bastardo I". </div>
<br />Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-43949314454072096822013-10-05T14:37:00.001-07:002013-10-21T05:50:45.072-07:00Linguagem<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Sempre
que pego um táxi lembro-me de Clarice Lispector. As conversas da escritora com
os taxistas renderam boas crônicas. O fato é que um tipo de sentido aguçado
imediatamente se compõe quando entro em um táxi. Talvez por ter quem dirija por
mim, propiciando um devanear enquanto olho pela janela. Mas não é só por isso.
Confesso que sou tomada por uma curiosidade incontrolável de saber como é a
vida desse outro que momentaneamente é responsável por conduzir meu
destino. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Então
puxo conversa. O trânsito de Fortaleza é, por motivos óbvios, um tema
recorrente. Inusitadamente, com um motorista de outra cidade aprendi um caminho
alternativo que driblou vários congestionamentos. Após uma boa conversa, muitos
taxistas no intervalo do semáforo ou no fim da corrida, gostam de mostrar as
fotos dos filhos no celular. “tudo vale a pena pela felicidade deles”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
Nos diálogos, vou colhendo impressões
políticas, convicções religiosas, histórias de família. Antônio batizou o banco
do passageiro de “divã do analista” e se mostrou orgulhoso ao relatar as
façanhas de seu consultório móvel. Segundo ele, seus conselhos já salvaram mais
de dez casamentos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Violência
urbana é outro assunto que sempre vem. O diálogo que nunca esqueci aconteceu
com Sônia, taxista estreante na profissão. A contragosto substituía o marido,
impedido de dirigir, pois sofrera um assalto recente. O marido de Sônia levou
um tiro que atravessou a perna e banhou o carro de sangue. “Tá vendo essas
marcas? São dos tiros. Foram seis dentro desse carro.” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Emudeci.
Enquanto verificava as marcas deixadas pelos projéteis, as palavras ecoavam
habitando o silêncio e deixei o olhar perder-se, atravessando a janela. Depois,
pelo retrovisor, observei que o medo jorrava do olhar de Sônia. Um medo que identifiquei
com tamanha clareza por também ser meu. Um medo que nos enlaçou naquele
momento, compartilhando pela linguagem de palavras, silêncios e olhares a
fragilidade de nossa condição humana. <o:p></o:p></div>
<span style="line-height: 24px; text-align: justify; text-indent: 36px;"> Ana Valeska Maia Magalhães. </span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
<o:p> (crônica publicada no jornal O Povo edição de 04/10/2013)</o:p></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-77274504506986767282013-09-14T08:59:00.000-07:002013-09-14T09:02:38.482-07:00As trocas epistolares<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqg0rtLzdlKttpia_qLRHPZ-gaYpS0kfcF-zoAiz1E2lZEiwmWZey0x0zbEeinGrtSLMvnEY81USMM0iuSabk4ZqHgqpIGr6DZ03d7HQoNqwYhE-KPnTHDkHB-SvaG5lYnBTt08Y6W1z8/s1600/carta_03A.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqg0rtLzdlKttpia_qLRHPZ-gaYpS0kfcF-zoAiz1E2lZEiwmWZey0x0zbEeinGrtSLMvnEY81USMM0iuSabk4ZqHgqpIGr6DZ03d7HQoNqwYhE-KPnTHDkHB-SvaG5lYnBTt08Y6W1z8/s320/carta_03A.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Estou
mudando de casa. Para algumas pessoas a mudança de lar pode ser um processo
corriqueiro, quase banal. Tenho uma amiga que já atravessou a maratona de
mudança de residência mais de quinze vezes e considera a aventura de triagens,
encaixotamentos e transportes super normal. Eu não. Estou há semanas organizando
pertences, descartando objetos, mirando fotografias antigas, reencontrando
cartas, bilhetes, postais, telegramas. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
A descoberta
das cartas há tanto tempo esquecidas aguçou minha curiosidade. Como não reler? Inevitável
a nostalgia, os papéis amarelados, os envelopes com borda verde-amarela. As
palavras escritas à caneta, a grafia do narrador traçando um estilo de ser, tratando
de coisas que merecem ser contadas, um nascimento, um enamoramento, um sentir-se
diferente, uma conclusão, muitos começos, saudades. Cada carta possui uma força
única, próprio da fala afetiva de um alguém para outro alguém. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Talvez
esse traço íntimo, esse laço de cumplicidade, explique porque as trocas
epistolares são tão fascinantes para muitos leitores. O texto das
correspondências e diários, na origem, não foi elaborado para ganhar
publicidade. Então, a leitura das missivas ganha uma vida diferente, pois o
encontro acontece como uma pequena invasão, um desfrutar de algo que não foi
concebido para ser seu. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Mas,
como acompanhar as inquietações e expectativas de Freud na estruturação do
edifício da psicanálise sem ler as cartas direcionadas a Fliess? Como sentir o
que é ser um artista no âmago sem ler a correspondência de Rainer Maria Rilke
ao jovem poeta Kappus? Como saber das angústias
do menino Franz sem a carta ao pai Hermann Kafka? Ou as tramas de um amor louco
na fala de Camille Claudel a Rodin? Ou ainda a beleza da amizade florescida nas
trocas entre Mário de Andrade e Portinari? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
Volto
às minhas cartas. Encontro uma especial, escrita em abril de 2000. Um amigo que
mora no Rio de Janeiro pergunta, no corpo do texto, o seguinte: “você tem
e-mail?” Sem que eu soubesse, aquela pergunta trouxe uma sentença oculta. Hoje
constato que esta foi a última carta que recebi.<br />
<br />
Ana Valeska Maia Magalhães</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 27.0pt;">
<span style="line-height: 150%; text-indent: 27pt;">(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 13 de setembro de 2013. Imagem: uma carta de Camille Claudel))</span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-28884105639380949792013-09-11T03:25:00.000-07:002013-09-11T03:25:06.763-07:00Branca de Neve<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSl08g21E07W0N8FO004sT4pbeefOnE1pu60AkhSipZhJoqrTkb_PIbAoZVBNeqj-tB4Iu8TI-W17cgOuyPrhWgURbimPjOSIDoC-wJISsXSlg8tY9tsdbpQGhJI22f__U8O4ewEsoB1c/s1600/branca-de-neve.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSl08g21E07W0N8FO004sT4pbeefOnE1pu60AkhSipZhJoqrTkb_PIbAoZVBNeqj-tB4Iu8TI-W17cgOuyPrhWgURbimPjOSIDoC-wJISsXSlg8tY9tsdbpQGhJI22f__U8O4ewEsoB1c/s320/branca-de-neve.jpg" width="320" /></a></div>
Divulgando o próximo encontro Psicanálise e Arte em Sessão. Tema: Branca de Neve.<br />Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-63975653306905269782013-08-25T15:00:00.000-07:002013-08-25T15:00:10.664-07:00Os sabores do palácio<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Leio as notícias envolvendo as novas performances palacianas do governador Cid Gomes e me surgem as mais diversas associações. Primeiro, as palavras do título desta crônica, que peguei emprestado de um recente filme francês, com narrativa inspirada na vida da chef do presidente François Mitterand. </div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Como em todo bom filme envolvendo a arte culinária, há a exuberância visual nos pratos, a combinação perfeita de ingredientes, a imaginação que flui guiada pelo aéreo dos aromas, levando o espectador a, literalmente, lamber os beiços.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">Outra associação surge. Desta vez a liga é com o filme Maria Antonieta, dirigido por Sofia Coppola. Durante o filme, há o desenvolvimento das tramas da sociedade de corte, o desfile de vaidades, materializado em roupas, joias, bibelôs, perucas, sapatos, futilidades. Presença constante também da exaltação dos prazeres do corpo, inclusive o prazer de usufruir de banquetes com cardápio sofisticado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Volto aos dissabores das performances palacianas na Terra do Sol e procuro juntar os fragmentos das associações. No tear, fio por fio, uno o contrato de milhões de reais envolvendo o Governo do Estado e os serviços de um buffet especializado. Entrelaço o povo miserável da França revolucionária do século XVIII com o povo cearense vivendo o rigor da travessia de um tempo de estio. Tranço as semelhanças entre o esbanjar dos nobres retratados na história, caracterizados como uma elite alheia ao sofrimento popular e percebo que existem muitas semelhanças no presente dos representantes “democráticos”. E, ontem e hoje, se alguém ousar evidenciar os excessos da farra, sempre existe um grupo de bajuladores palacianos para defender os interesses do rei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">Assusta o alcance da dissociação da mentalidade de quem considera o luxo das recepções, viagens e construções megalomaníacas a coisa mais natural e benéfica do mundo. Mentalidade de quem assume a posição de dono da coisa pública e que banca os requintes dos sabores do palácio com o dinheiro dos outros.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 23/08/2013)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
<strong style="border: 0px; list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;">Ana Valeska Maia Magalhães</strong></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-63941954938251506322013-08-10T07:42:00.000-07:002013-08-10T07:42:42.849-07:00A cidade eventual<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Costumo passar em frente ao aeroporto de Fortaleza todos os dias. Faço meu percurso por terra, mas, sempre que um avião rasga o céu, decolando ou aterrissando, viajo um pouco junto, imaginando o destino das pessoas. Será que seguem rumo a alguma cidade desconhecida? Quais afetos brotarão desse encontro com a cidade? No fluxo desse tear imaginativo, lembro das palavras de Jorge Luís Borges, quando diz que não existe um único homem no mundo que não seja um descobridor. </div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Na condução dos rumos inesperados do pensamento, imagino que talvez um dos passageiros dos aviões que pousavam retornasse a Fortaleza. Vamos supor que a primeira visita desse passageiro hipotético tenha acontecido durante o período dos jogos da Copa das Confederações. O que ele viu ao sair do aeroporto? Jardins cuidados, que se mantinham durante o percurso, meio-fio pintadinho, calçadas limpas. O que ele verá agora? Grama seca, mato crescido, compartilhando espaço com o lixo. Talvez ele fique espantado com o rumo das coisas e pergunte a si mesmo sobre o que aconteceu. Afinal, nem dois meses se passaram e os jardins expostos ao público que antes brilhavam em suas regas diárias exibem agora a triste face do abandono.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">Ele então saberá que Fortaleza arrumou-se toda para receber as visitas, caprichou na maquiagem para participar do “evento”. Uma cidade que se mostra bela de acordo com as circunstâncias, uma cidade eventual. Não somos, no entanto, moradores eventuais nem cidadãos circunstanciais. Na rotina de nossos afazeres percebemos o investimento público desperdiçado em obras “para inglês ver”. Investimentos que arcamos com o custo de nossos esforços, com a cobrança de uma carga tributária que nunca é eventual.</span><span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Esse foi um dos pontos que encontraram eco e continua a reverberar na crítica ao império do progresso, que permanece associando crescimento com a construção de viadutos ou obras megalomaníacas como um hiper aquário. Esse fluxo mantém aberta uma ferida antiga, que foi e continua a ser a bandeira do colonizador, ao exigir, em uma suposta proposta de negociação, que sua vontade prevaleça.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
(crônica publicada no jornal O Povo, edição de 09/08/2013)</div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2271325285203555382.post-3083572352579090042013-07-27T06:17:00.001-07:002013-07-27T06:17:53.740-07:00Deus existe?<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Das inúmeras perguntas que as crianças me fazem, uma das mais delicadas é a inevitável: Deus existe? Penso que, ao chegar a este tipo de questionamento, a criança percebeu que não é possível provar a existência de Deus. Ela está diante da angústia das perguntas sem respostas. Mesmo que respostas positivas sejam fornecidas, essas serão provenientes de fonte religiosa, cujo amálgama com o indivíduo dá-se pela crença, pela fé. A resposta escapa, portanto, aos poderes da razão e da ciência. </div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Desta forma, não posso dizer que sim. Nem devo dizer que não. Mesmo crendo ou não crendo em Deus. Fecharia o caminho do outro, seria autoritário, impositivo, cruel. A resposta possível é um singelo “não sei”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">Lembro-me da primeira vez que fiz a pergunta sobre a existência de Deus. Era o primeiro dia em uma nova escola. Antes da aula, a professora ordenou à turma que todos ficassem em círculo e dessem as mãos para rezar o pai-nosso. Um dos garotos recusou-se a participar. A professora indagou o motivo. Sou ateu, ele disse. Todos olharam para o garoto como se estivessem diante de um alienígena perigoso. Durante todo o ano, ele ficou no canto da sala, sendo veladamente hostilizado pelos colegas e pela professora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px; list-style: none; margin-bottom: 20px; padding: 0px; text-align: justify;">
Na época, eu não sabia que estava diante de uma manifestação de intolerância pela diferença, pela não crença do outro. Era uma menina impactada com a evidência de que as crenças humanas prendem mais do que libertam. De que as pessoas e suas instituições podem tomar posse do conceito de Deus, de terras e coisas. Fluiu o tempo e fui constatando que as imposições de modos de ser, pensar, desejar, acreditar, constituem uma marca indelével da humanidade. Das religiões aos sistemas econômicos. Cabe a cada um, em meio a este mapa repleto de estradas, encontrar um caminho possível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">Um caminho que nos leve também a tolerar as escolhas do outro. Como ainda é longa e sinuosa a estrada que conduz ao amor e ao respeito, “demo-nos por felizes se formos tolerantes”, diz André Comte-Sponville. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">Ana Valeska Maia Magalhães</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: MyriadPro; font-size: 18px; line-height: 21px;">(texto publicado no jornal O Povo, edição de 26/07/2013)</span></div>
Ana Valeska Maiahttp://www.blogger.com/profile/00187184006829177444noreply@blogger.com2